Vamos Repetir!

No sábado passado, eu e minha esposa nos entregamos a um programa tipicamente paulistano: fomos à casa de uns amigos bater papo, tomar vinho, e pedir delivery de pizzas.
Eu levei dois tintos. – Que ninguém nos ouça, mas me ofereci porque prefiro os meus rótulos aos do nosso amigo.
Ao chegarmos, já havia sobre a mesa patês com torradinhas, amendoins japoneses e os sempre lembrados Doritos.
E como nada deve ser mastigado a seco, tratamos de abrir a primeira garrafa.
Quando as pizzas chegaram, meus olhos brilharam, pois estavam do jeitinho que gosto – massa fina, borda crocante, e com muito recheio.
Brindamos à amizade, e atacamos as primeiras fatias.
Lá pelas tantas, quando a gula procura, mas a etiqueta recomenda que ninguém garfe o último pedaço, nosso amigo se virou para a esposa e, com ar de gozador, pediu que contasse o que lhe acontecera na semana anterior.
Ela ficou vermelha como um pimentão, o que só aumentou a nossa curiosidade.
Disse que comprou um bilhete de rifa para ajudar o sobrinho, formando do nono ano. O prêmio seria um jantar, com acompanhante, em um badalado restaurante da cidade.
Se ela ganhou?
Sim! E foi a maior surpresa da sua vida quando o encarregado do sorteio ligou avisando.
Então o casal se arrumou todo e foi jantar em grande estilo?
Não! Como a dona da casa nunca ganhou nada em sorteios, nem se deu ao trabalho de torcer. E jogou o bilhete no primeiro lixo que encontrou, assim que saiu da escola.
Não preciso dizer que as gargalhadas e a zombaria tomaram conta da mesa…
Daí que cada um resolveu contar o seu caso de sorte ou azar.
Eu ia falar, mas minha esposa tomou a frente. E começou dizendo que era uma das mulheres mais sortudas da Terra, pois tinha casado com o melhor dos homens.
Caro leitor, não acredita nisso?! Pois saiba que nosso amigo ainda aproveitou a deixa e provocou a esposa dizendo: “Por que você não me faz esse tipo de declaração?”
Mas voltemos aos casos…
Minha esposa se lembrou de uma vez que foi contemplada pela sorte. A Mega-Sena tinha acumulado e ela concorria com um só cartão.
Pois deu a quina na cabeça!
Mas antes que os anfitriões passassem aos comentários, ela emendou que as torcidas do Corinthians, do São Paulo e do Palmeiras também tinham acertado a quina. E o prêmio foi a vultosa quantia de vinte e cinco reais.
Foi a vez do nosso amigo. Mas nós três já deduzíamos o que ele contaria. E o ouvimos em respeitoso silêncio.
Com os olhos úmidos, relembrou a angústia de ter ficado meses na fila de espera por um transplante de coração. E levantando a taça, brindou dizendo: “Sorte de uns, azar de outros.”
Só faltava a minha história.
E me lembrei que certa vez toda a família se reuniu em um sítio no interior para comemorar a Páscoa. O que não faltavam eram crianças; eu devia ter seis ou sete anos.
Como é comum meninos dessa idade brincarem de empurrar, fui ao chão quando um primo mais forte se animou.
Caí de costas, e com a nuca sobre uma depressão encoberta por folhas e galhos secos.
Só que aquela depressão escondia uma colônia de formigas sararás, aquelas grandes e pretas.
E antes mesmo que conseguisse me levantar, elas rápida e literalmente tomaram conta do meu corpo.
Pois bem, acreditem ou não, nenhuma delas me picou, mesmo enquanto minha mãe me limpava, retirando uma por uma. Juro por Deus!
É possível que se diga que a história que contei nada tenha a ver com sorte, mas, sim, com a intervenção do meu anjo da guarda, que por certo estava bem ao meu lado naquele momento.
É possível…
Seja como for, terminei confessando que se há um inseto que abomino, este é a formiga. – A ala feminina apontou a barata.
A reunião terminou com a melhor das promessas: a de que nos reuniríamos para outra “pizzada”, mas, desta vez, na nossa casa.
Ainda bem que não havia nenhuma blitz no caminho de volta. O bafômetro não me perdoaria…
A propósito, já que toquei no tema anjo da guarda, acabo de me lembrar de uma história de arrepiar os cabelos!…
Mas fica para uma próxima crônica.
Dias Campos
diascampos1@gmail.com

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