O cenário contemporâneo dos litígios empresariais transcende o simples embate entre partes antagônicas. Envolve a compreensão de que a atividade empresarial integra um sistema complexo, onde cada decisão impacta trabalhadores, fornecedores, consumidores e o próprio tecido social. Assim, o conflito jurídico deve ser visto não apenas sob a ótica patrimonial, mas também sob o prisma da responsabilidade sistêmica.
A
crescente judicialização das relações empresariais reflete, em grande parte, a
falta de previsibilidade e transparência nas práticas corporativas. Empresas
que ignoram princípios de governança, ética e sustentabilidade institucional
acabam reproduzindo padrões de desequilíbrio econômico e social, gerando
disputas que poderiam ser evitadas por meio de mecanismos internos de
integridade e autorregulação.
Nesse
contexto, o papel do advogado e do gestor empresarial é estratégico. A defesa
técnica não pode limitar-se à resposta processual, mas deve propor soluções de
governança preventiva, pactos de compliance e estruturas contratuais que
privilegiem o equilíbrio entre lucro e legitimidade. Trata-se de construir um
ambiente de negócios saudável, previsível e socialmente responsável.
A
chamada responsabilidade sistêmica parte da premissa de que o setor privado não
atua isoladamente — ele é corresponsável pelo desenvolvimento do país. Assim,
empresas devem compreender que a busca por resultados econômicos deve caminhar
lado a lado com a preservação do interesse coletivo, sob pena de comprometer a
confiança institucional e a própria sustentabilidade do mercado.
De
modo análogo ao que se observa em países europeus, a cultura empresarial
brasileira precisa evoluir para incorporar obrigações éticas e sociais
permanentes, que não dependam apenas de incentivos fiscais ou de filantropia
voluntária. Na Europa, o conceito de corporate social responsibility é tratado
como dever regulatório e cultural, e não como ato de benevolência.
Nesse
sentido, urge uma mudança de paradigma: a responsabilidade social deve ser
vista como um dever corporativo sistêmico, não apenas como instrumento de
marketing reputacional. O investimento em causas sociais, ambientais e
culturais — seja por meio de incentivos fiscais, parcerias público-privadas ou
programas de impacto — constitui parte da função social da empresa.
Em
síntese, litígios empresariais são sintomas de um sistema que ainda precisa
amadurecer em ética e responsabilidade. O verdadeiro avanço jurídico e
econômico dependerá da consolidação de um modelo em que lucro, ética e
governança coexistam. Empresas sustentáveis não são apenas aquelas que
sobrevivem às crises, mas as que compreendem que a integridade é seu ativo mais
valioso.
Por:
Juliana Carrillo Vieira - advogada
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