Ciência: Cães expostos à "vitamina S" têm menos chance de terem alergias


Pesquisa mostra que exposição a fatores ambientais – como sol, terra, mato e chuva – mantém o sistema imune do animal potente

(Foto: Rudy and Peter Skitterians por Pixabay
)

Já ouviu falar em "vitamina S"? É um nome popular para "sujeira", e muito se fala de sua importância para bebês e crianças. E os cães expostos a ela? É algo maléfico ou vantajoso?

Para a Ciência, o contato com ela pode trazer vários benefícios. Camilli Chamone, geneticista, consultora em bem-estar e comportamento canino e editora de todas as mídias sociais "Seu Buldogue Francês", explica que "vitamina S" não é "sujeira", exatamente, mas sim o contato com tudo aquilo que é natural: sol, terra, mato e chuva. “No caso específico dos cães, podemos até incluir farejar prolongadamente as árvores, brincar em poças de lama e beber água de torneira – tudo isso faz parte do repertório comportamental natural deles”, exemplifica.

É comum que donos fiquem preocupados de expor o cachorro a essas situações, com receio de que fiquem doentes. Porém, Chamone assegura que o que mantém o sistema imune potente são justamente esses desafios ambientais – por isso, é importante expor o peludo à "vitamina S" sempre que possível.

A literatura científica respalda a informação. Uma pesquisa publicada na revista científica Applied Biological Sciences, por pesquisadores de Helsinki, na Finlândia, apontou que o pouco contato dos cachorros com essa "vitamina S" – proveniente de um estilo de vida urbanizado e exposição ambiental restrita – é um fator de risco para o desenvolvimento de alergias.

Segundo Chamone, a presença de microrganismos diversos na pele e nas mucosas (nasal, bucal, dos pulmões, gástrica, intestinal) estimula a produção de substâncias chamadas citocinas anti-inflamatórias.

"Essas citocinas são a chave para o bom funcionamento do sistema imunológico. Cães pouco expostos à 'vitamina S' ou submetidos a níveis rigorosos de higiene e limpeza produzem menos delas, tendo sua imunidade comprometida e ficando mais propensos a alergias e outros problemas de saúde", analisa a comportamentalista.

Já o indivíduo com as mucosas do corpo saudáveis e um sistema imunológico equilibrado dificilmente terá problemas ao entrar em contato com micróbios e agressores ambientais. E como um cão consegue produzir essas citocinas e ter todos esses benefícios?

Chamone exemplifica: "com simples atitudes, como contato com a natureza, em ambientes naturais; dieta biologicamente apropriada, com alimentos in natura; com um passeio diário e de qualidade, que o incentive a farejar".

Com esses estímulos, os microrganismos colonizam, de forma saudável, as mucosas do peludo, aumentando também sua imunidade.

Banhos excessivos: sinal de alerta

Nesta direção, dar banhos frequentes no cachorro, principalmente com sabonetes ou shampoos contendo inúmeros produtos químicos, pode prejudicar a proteção natural da pele – além de, para muitos, ser fator de estresse, por ações como ir ao pet shop, interagir com desconhecidos ou barulhos como o de secador.

"Banhos em excesso alteram a qualidade dos microrganismos naturais da pele, podendo dar lugar a outros, patogênicos – esses sim, maléficos ao organismo", explica Chamone.

Além disso, os banhos removem a camada de gordura que protege a pele dos cães – e, acredite, isso pode trazer mau cheiro ao animal. "Essa camada de gordura é o que dá um cheiro semelhante a sebo. Quando é removida, o corpo entende que precisa produzir mais. Por isso, quanto mais banho o cachorro toma, mais o corpo dele produz essa gordura, e mais forte fica o cheiro", analisa a comportamentalista.

E, por falar em limpeza, é importante se atentar para o excesso de exposição a agentes químicos, como produtos de higiene, toalhas com antissépticos, amaciante em camas ou lenços umedecidos. "Na tentativa do dono de manter tudo muito limpo, o cão começa a ser submetido ao contato com produtos químicos demais e natureza de menos, e isso é um sinal de alerta para sua saúde", finaliza.

Dessa forma, respeitar a espécie que trouxemos para casa significa entender a Ciência e, assim, proporcionar ao animal qualidade de vida diária, aumentando imunidade e reduzindo doenças e estresse.

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