Como o ensino gratuito e o acesso à cultura podem transformar realidades e fazer do Brasil um preparador e exportador de talentos, mesmo durante a pandemia


Da favela no Brasil para o mundo - a história da aluna de viola do Instituto Baccarelli, Palloma Izidio (22 anos), e sua trajetória para chegar ao renomado Conservatório de Mons (Bélgica) pelas mãos do violista Marc Sabbah

Se por um lado a pandemia travou a cultura, por outro a nova forma de se relacionar com as pessoas tem construído pontes e encurtado distâncias entre professores de música do outro lado do mundo e alunos talentosos, por meio das aulas online.

Isso é o que tem ocorrido frequentemente no Instituto Baccarelli - com 23 anos de atuação, a organização sem fins lucrativos localizada na comunidade de Heliópolis (SP) - ensina música a mais de 1.200 crianças e jovens por ano. Em uma área de 5 mil m², o Instituto conta com 16 turmas de musicalização infantil, 13 corais, 48 turmas de coletivos de instrumentos e 4 orquestras.

Heliópolis é a maior comunidade de São Paulo e, também local onde o hospital de campanha registra o maior número de mortes por Covid-19. Ao todo 62% das mortes por coronavírus nos hospitais de campanha da cidade de São Paulo foram na unidade de Heliópolis. A unidade de saúde foi montada no dia 20 de maio e acumula 78 óbitos registrados e 617 altas. Cerca de 90% dos pacientes que passaram por Heliópolis com Covid-19 foram recuperados. Dos 200 leitos, 34 são de unidade de terapia intensiva.


A história da aluna Palloma
Por meio do Instituto Baccarelli os alunos estão tendo aulas online com grandes nomes da música na série de masterclasses, que faz parte do programa "Conexão Heliópolis" - a frente artístico-pedagógica do Instituto Baccarelli em versão digital, que se configurou após a pandemia.

Por essa frente, os alunos têm tido acesso ao conteúdo de ensino musical pela internet, possibilitando que continuem aprendendo, mesmo estando em casa em isolamento. As mais de 80 masterclasses promovidas até agora têm proporcionado interação entre os estudantes e grandes nomes da música, que entram em contato com os programas musicais em Heliópolis por intermédio do seleto time de professores do Instituto Baccarelli. Um dos maiores ativos do Instituto é seu corpo pedagógico, pelo alto nível técnico e pelas relações profissionais que mantêm com grandes e expressivos nomes da música, no Brasil e no mundo.

E foi por meio dessa rede que Palloma Izídio teve acesso a uma oportunidade internacional.

Estudante de um outro projeto social de ensino de música na cidade de Barra Mansa (RJ), Palloma já era uma admiradora do Instituto Baccarelli. Aos 18 anos de idade, em 2016, decidiu mudar-se da cidade onde morava com os pais, para morar sozinha na comunidade de Heliópolis e investir no seu sonho de estudar viola no Instituto Baccarelli. Atraída pela chance de ingressar em uma instituição de ensino gratuito e de excelência, com profissionais de renome internacional no mundo da música orquestral, em 2016 ela foi aprovada para a Orquestra Sinfônica Heliópolis, grupo artístico que dá direito a aulas particulares e auxílio-financeiro aos músicos participantes. E permanece lá até hoje.

Em 12/5/2020, em meio à quarentena, ela e mais três alunos foram convidados para participar de uma aula online com o violista norte-americano, Marc Sabbah, contatado por um dos professores do Instituto Baccarelli. Impressionado com o talento da aluna, Sabbah a convidou para fazer algumas aulas particulares online. Depois de algumas semanas, ele decidiu que ela tinha nível para estudar no Conservatório Real de Mons, na Bélgica, onde ele leciona.

A partir de uma carta de recomendação enviada pelo músico, Palloma pode se inscrever no processo seletivo e teve apenas uma semana para preparar o repertório exigido. "Se ela não estivesse bem preparada e estudando frequentemente, jamais teria conseguido gravar os vídeos com obras tão complexas em tão pouco tempo", avalia o professor da Palloma no Brasil, o violista Gabriel Marin. No dia 10 de julho, ela recebeu a carta com a notícia de que foi admitida para iniciar seus estudos na entidade, um dos mais antigos e respeitados conservatórios do mundo.

O desafio de Palloma
Essa conquista com ‘cara de final feliz’ é apenas o começo do desafio. O Conservatório de Mons, por tradição, não oferece bolsas de estudos, então, ela agora está em busca de recursos para conseguir pagar o curso de bacharelado, a passagem e os custos para se manter na Bélgica pelo período de quatro anos.

O custo anual do curso é de €2 mil. Apesar de não se tratar de um conservatório caro para os padrões europeus, para essa brasileira da periferia, o custo é bastante elevado. Isso sem contar a luta contra o relógio. A jovem tem até o início do mês de outubro deste ano para pagar sua matrícula, viajar para a Europa e iniciar seus estudos.

Para isso, ela conta com a ajuda de amigos, instituições culturais, e do time do Instituto Baccarelli, que está se mobilizando para ajudá-la a chegar à Bélgica por meio de uma arrecadação online: http://abacashi.com/p/bacharel-na-belgica. . Essa conquista representa um grande salto profissional para Palloma e um reconhecimento à qualidade da classe musical brasileira, que continua preenchendo as vagas de escolas pelo mundo todo, mesmo diante de tantas dificuldades.

Também reafirma a importância do trabalho de instituições socioculturais como o Instituto Baccarelli, que segue oferecendo ferramentas para que centenas de crianças e jovens do país possam se desenvolver e buscar oportunidades de carreira - até mesmo no cenário internacional.

O Instituto Baccarelli
A história do Instituto Baccarelli, começa em 1996, quando comovido com a notícia de um incêndio que desabrigou centenas de pessoas em Heliópolis - comunidade próxima ao bairro onde vivia e trabalhava, o maestro Sílvio começou a dar aulas de música voluntariamente para 36 crianças de uma escola pública da região para ajudar a minimizar as tristezas causadas pela tragédia.

Alguns meses depois, estava formada a pequena orquestra de cordas que deu origem ao Instituto Baccarelli, projeto que atualmente oferece cursos de musicalização, canto e instrumentos sinfônicos para crianças e jovens da comunidade.

Hoje, o Instituto que carrega o nome do seu fundador, já proporcionou o ensino da música para mais de 3.000 pessoas em 23 anos de atuação e conta com a com direção artística e regência de um dos maiores maestros da atualidade, Isaac Karabtchevsky. A organização tem uma sede própria na Comunidade de Heliópolis, em uma área de 5 mil m², onde ensina música anualmente a 1.200 crianças e adolescentes a partir de quatro anos de idade. São 16 turmas de musicalização infantil, 13 corais, 48 turmas de coletivos de instrumentos e quatro orquestras.

Sobre o Instituto Baccarelli
O Instituto Baccarelli é uma das organizações sem fins lucrativos mais respeitadas no Brasil por proporcionar ensino de excelência combinando três eixos de grande importância: cultural, educacional e social. Além disso, formou a primeira orquestra do mundo em uma favela, quebrando diversas barreiras. Com direção artística e regência de um dos maiores maestros da atualidade, Isaac Karabtchevsky, a instituição oferece
todas as atividades gratuitamente e tem sua sede na comunidade de Heliópolis, onde atua há 24 anos, como agente de transformação social por meio da arte. Mais do que dar acesso ao ensino musical, o instituto mostra um futuro com mais perspectivas àqueles que, pela desigualdade, são colocados à margem da sociedade.

Para mais informações, acesse www.institutobaccarelli.org.br

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