JÁ QUE É PARA SONHAR...

Já que é para sonhar...

Estava assistindo, pelo YouTube, às propagandas das mansões à venda nos Estados Unidos
Esse passatempo é para mim paradoxal. É que, se de um lado me delicio com essas filmagens, e é incrível como essas casinhas contêm tudo aquilo de que gosto,coço-me por ainda não ter podido adquirir a dos meus sonhos, mesmo que básica – Notou a simplicidade deste cronista?  
De primeiro, apaixonara-me por uma belezura localizada em Bel Air, que, por ser recém-construída, pediam a módica importância US$100 milhões.
Mas, como sabemos, não se deve fechar negócio assim, de supetão. É preciso pesquisar
E hoje, dia deste texto, acabei de encontrar outra em Beverly Hills, muito maiore bem mais barata! Pediam meros US$46 milhões.
Viu como vale à pena pesquisar?...
Ocorre que não bastará, a este futuro milionário, a satisfação de tão somente comprar um desses imóveis
E por quê? Porque essa aquisição de nada adiantaria sem que não se lhe pudesse agregar um personagem essencial ao seu gerenciamentomaior responsável porvivificá-lo e aformoseá-lo.
Refiro-me ao mordomo. – À governanta, o meu mais sincero estímulo.
Mas se esse funcionário é vital para o bom andamento do meu futuro domicílio, a sua escolha deverá ser feita com o máximo de cuidado
Para tantoé bom que relembre os tipos de mordomos que há, e que foram habilmente estereotipados pela sétima arte.
Temos o perfeccionista, cujo expoente máximo foi James Stevens, interpretado por Sir Anthony Hopkins, em Vestígios do Dia, o mordomo-chefe de Darlington Hall. Quem não se lembra da cena antológica em que ele mede com régua a distância em que devem estar dispostos os talheres, os pratos e os copos?
Há o dedicado e fiel, cujo maior exemplo foi o Sr. Carson, representado pelo também veterano Jim Carter, na série Downtown Abbey. Quem questionará esses seus predicados, se, permanecendo adorado, conseguiu sobreviver às histórias de amor e tragédia que assolaram a família Crawley?
E daí eu pergunto: Se for possível unir-se ao perfeccionismo a dedicação e a fidelidade, o profissional que resultar não poderia ser adjetivado como perfeito?
Bem, falando como futuro patrão, ouso responder que não. A mim me parece que essas qualidades podem implicar um relacionamento estanque, um distanciamento desnecessário, uma impessoalidade limitadora. 
Ora, já imaginou o quão desagradável seria usufruir de uma dessas residências se a presença do mordomo, com o seu magnetismo, acarretasse sempre uma gelidez ao ambiente?
Daí ser imprescindível o tipo cômico, com um quê de zombeteiro, porém jamais desrespeitoso.
E quando falo desse ideal de mordomo, logo me m à cabeça três ícones, que por certo você também se lembrará.
O primeiro, o querido e saudoso Benson, levado às cenas pelo ator Roberto Guillaume, em O poderoso Benson, série de 1979, representava o mordomo atento que, no momento certo, não dispensava as tiradas geniais que sempre faziam rir ao telespectador.
O segundo, o não menos querido e saudoso mordomo Geoffrey, incorporado por Joseph Marcell, da série The Fresh Prince of Bel-Air – aqui traduzida como Um maluco no pedaço –, de 1990, protagonizada pelo impagável e eclético Will Smith. Para mim, suas sacadas conseguiam ser mais sutis e engraçadas que as de Benson.
E por fim, o hilariante mordomo Nileso meu preferido, encarnado por Daniel Davis, no seriado The Nanny, de 1993, e cujo principal divertimento era infernizar a senhorita Babcock por meio de comentários para lá de irônicos
E como se “odiassem”, acabaram casando-se no final da série.    
A propósito, uma das cenas em que mais ri foi a que o personagem Maxwell Sheffield perguntou-lhecom um quê de patetice, por que se dedicava tanto ao trabalho se recebia um salário nada estimulanteNiles, como bom inglês, respondeu: “Oh, pela glória, senhor...
Seja como for, se conseguir encontrar um profissional que reúna o perfeccionismo, a dedicação, a fidelidade, e a comicidade zombeteira, mas nãodesrespeitosa, creio que minha futura mansão será o ambiente perfeito para passarmostemporadas inesquecíveis na terra do Tio Sam.
É claro que um mordomo desse quilate custaria muito dinheiro, sobretudo se proviesse da tradicional British Butler Institute ou mesmo da Internationl ButlerAcademy, sediada na Holanda. – OpsAgora é oficial: Países Baixos.
Nesse sentido, no Reino Unido ele pode ganhar de 30 a 80 mil libras por ano. E se for trabalhar em outro país, sobretudo nos do Golfo Pérsico, poderá receber mais de 150 mil libras a cada ano!
Bem, como minha mansão estaria nos Estados Unidos, acho que poderia dispor de 60 mil libras/ano. Isso equivaleria, ao câmbio desta crônica, a um salário de 73.800 dólares anuais. Por certo que o futuro contratado concordará que a remuneração é mais do que justa.
De outra parte, nunca é demais relembrar aquele lugar-comum que adoraencaniçar os cabelos de mais de um bon vivant: “A culpa é sempre do mordomo.”
Não por isso que, mesmo que consiga reunir todos esses atributos em uma só pessoaalém de uma severa e prévia entrevista, de preferência acompanhada de um psicólogo, será necessário, como condição sine qua non à contratação, levantar a sua folha de antecedentes. Afinal, preferível é que eu e o seguro morramos de velho.
A propósito, tão logo for o proprietário de uma mansão, bem como o empregador de um mordomo ideal, terei imenso prazer em abrir as portas para todosaqueles que, como eu, quiserem deleitar-se com o melhor que a vida pode dar.
Calma! Ninguém precisará se preocupar com o dinheiro das passagens, nem sair alucinado atrás dos dólares à alimentação. 
Bastará acessar as redes sociais, ver as fotos que postarei, e se entregar às muitas curtidas e aos amáveis comentários.

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