Uma travessia por vozes, ritmos e gerações que moldaram a música contemporânea,
do jazz ao samba, do soul ao rap, em apresentações emblemáticas disponíveis
gratuitamente na plataforma de streaming e app do Sesc
É impossível iniciar essa travessia sem Elza Soares. Sua apresentação de A Mulher do Fim do Mundo, gravada no Sesc Pinheiros em 2016, tornou-se documento de uma das fases mais inventivas de sua trajetória. Primeiro álbum inteiramente de inéditas da cantora — premiado com o Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira e eleito Disco do Ano pela APCA e pela Rolling Stone Brasil —, a obra ganhou no palco uma dimensão quase ritualística. Com direção musical de Guilherme Kastrup e músicos centrais da cena paulistana, Elza transformou dor, desejo e denúncia em gesto cênico, encontrando, aos 85 anos, um novo começo.
Essa força de reinvenção dialoga com o jazz expansivo do saxofonista norte-americano Kamasi Washington, que apresentou no Sesc São José dos Campos trechos de The Epic, álbum que o projetou internacionalmente e figurou entre os mais celebrados pela crítica do The Guardian e do site Pitchfork. Ao lado do pai, Rickey Washington, e de sua formação histórica, Kamasi faz do palco um território de expansão, em que cada solo soa como comentário sobre ancestralidade, futuro e liberdade.
A conversa entre gerações reaparece no encontro de Andreas e Yohan Kisser no projeto Kisser Clan, registrado no Instrumental Sesc Brasil. Pai e filho exploram o rock instrumental em um repertório que transita de Metallica a Led Zeppelin, alternando peso e delicadeza em momentos acústicos raros. Em outro registro de afeto e herança, o encontro entre Bebel Gilberto e Guilherme Monteiro, no Sesc Vila Mariana, celebra o lançamento do álbum Relicário: João Gilberto ao vivo no Sesc em 1998. O show costura memória e experimentação, reafirmando a arquitetura sensível da bossa nova com sua música que diz muito, mesmo quando escolhe o silêncio.
Também atravessando oceanos simbólicos, Archie Shepp, um dos ícones do free jazz e parceiro de John Coltrane, apresentou no Sesc Pompeia, em 2011, um espetáculo marcado pela memória, pela espiritualidade e pelo diálogo com a cultura afro-brasileira. Celebrado pela crítica e indicado ao Grammy ao longo da carreira, Shepp encontrou no público brasileiro um espelho atento: suas músicas ganharam contornos de afeto e improviso, em um registro raro de sua primeira visita ao país.
Se o jazz fala de retorno e transcendência, o rap traz crônica, presença e urgência. Em 2015, no Sesc Araraquara, Rashid apresentou canções que marcariam sua trajetória, como “A Cena” e “Depois da Tempestade”, em um show que reafirma sua habilidade de transitar entre poesia, política e festa. No Festival Batuque, em Santo André, Mano Brown levou ao palco o repertório de Boogie Naipe, álbum que ampliou seu espectro sonoro e crítico. Entre soul, funk e referências diretas a Marvin Gaye, Tim Maia e Cassiano, Brown revisita sua própria história e a da música negra brasileira.
Ainda no Festival Batuque, o show de Criolo, gravado em 2016, aprofunda essa pulsação urbana e ancestral. Ao revisitar diferentes fases de sua trajetória, o artista costura rap, poesia e reflexão, entendendo o hip hop como uma linguagem capaz de recompor sentidos e curar fraturas. Ao rememorar o processo de criação de Ainda Há Tempo, Criolo reflete sobre memória, amadurecimento e a urgência de assumir o próprio olhar sobre o mundo.
Da intensidade rítmica ao soul mais rasgado, o percurso se amplia com o show do norte-americano Charles Bradley, gravado no Sesc Pompeia. Comparado a James Brown e celebrado como revelação tardia após assinar com a Daptone Records, aos 64 anos, Bradley surge visceral e luminoso nessa apresentação, guiado por uma entrega emocional que marcou sua obra. Tido como uma das principais apostas do soul e do R&B à época, o cantor teve uma carreira curta, morreu aos 68 anos, vítima de câncer.
Completando essa travessia musical, Marlena Shaw se apresenta ao lado da big band brasileira Bixiga 70 no Jazz na Fábrica de 2015. Com mais de 14 álbuns lançados por selos como Blue Note e Verve, a cantora revisita clássicos como “Woman of the Ghetto” em arranjos que unem soul, jazz e funk, criando uma ponte transatlântica entre tradições musicais negras.
Com vozes que atravessaram o século, herdeiros que reinventam linguagens e artistas que transformaram o palco em território de memória e invenção, essa seleção de dez shows revela a amplitude da criação musical registrada pelo Sesc. Cada apresentação é um documento do seu tempo — e, ao mesmo tempo, um convite à escuta no presente, disponível gratuitamente, para todo o país, na plataforma e no app Sesc Digital.
SERVIÇO
ASSISTA AGORA – SHOWS DISPONÍVEIS GRATUITAMENTE NO SESC DIGITAL
Elza Soares – A Mulher do Fim do Mundo
Ano/Local: 2016, Sesc Pinheiros (SP)
Duração: 52 min
Classificação: 12 anos
Direção Musical: Guilherme Kastrup
Formação: Elza Soares (voz), Kiko Dinucci e Rodrigo Campos (guitarras), Marcelo Cabral (baixo e synth), Dalua (percussão)
Metais: Bixiga 70 (Cuca Ferreira, Daniel Nogueira, Douglas Antunes, Daniel Gralha)
Participações: Rubi (voz), Aretha Sadick (bailarina), Clayton Nascimento, Ezio Rosa e Erisson Ramos (bailarinos)
Kamasi Washington
Ano/Local: 2017, Sesc São José dos Campos (SP)
Duração: 75 min
Classificação: Livre
Formação: Kamasi Washington (sax tenor), Rickey Washington (sax soprano, flauta), Igmar Thomas (trompete), Brandon Coleman (teclados), Kris Funn (baixo acústico), Patrice Quinn (voz), Robert Miller e Johnathan Pinson (bateria), Leon Mobley (percussão), Battlecat (DJ)
Kisser Clan
Ano/Local: 2025, Sesc Consolação (SP)
Duração: 60 min
Classificação: Livre
Formação: Andreas Kisser e Yohan Kisser (guitarras), Gustavo Giglio (baixo), Amilcar Christofáro (bateria), Renato Zanuto (teclados)
Bebel Gilberto & Guilherme Monteiro
Ano/Local: 2023, Sesc Vila Mariana (SP)
Duração: 65 min
Classificação: Livre
Formação: Bebel Gilberto (voz), Guilherme Monteiro (violão)
Archie Shepp
Ano/Local: 2011, Sesc Pompeia (SP)
Duração: 70 min
Classificação: Livre
Formação: Archie Shepp (sax), Darry Hall (baixo acústico), Steve McCraven (bateria), Tom McLung (piano)
Participação: Maurício Takara (percussão)
Rashid
Ano/Local: 2015, Sesc Araraquara (SP)
Duração: 65 min
Classificação: 12 anos
Formação: Rashid (voz), DJ Mr. Brown, Godo (backing vocal), Jhow (bateria), Renato Taimes (guitarra), Weslei Rodrigo (baixo)
Participações: Parteum, DJ Suissac
Mano Brown – Festival Batuque
Ano/Local: 2018, Sesc Santo André (SP)
Duração: 75 min
Classificação: 12 anos
Formação: Mano Brown (MC), Dri (DJ/MC), Big da Godoy e Ylsão Negredo (MCs), Ronaldo e Willian (dançarinos)
Criolo – Festival Batuque
Ano/Local: 2016, Sesc Santo André (SP)
Duração: 70 min
Classificação: 12 anos
Formação: Criolo (voz), DJ Marco (DJ e voz), DJ Dan (voz de apoio), Daniel Ganjaman (PA e vocal de apoio)
Charles Bradley
Ano/Local: 2015, Sesc Pompeia (SP)
Duração: 70 min
Classificação: Livre
Formação: Charles Bradley (voz), Alex Chakour (guitarra), Vince Chiareto (baixo), Freddy Deboc (sax), Will Schalda (órgão), Paul Schalda (guitarra/backing vocal), Caito Sanchez (bateria/backing vocal), Billy Aukstik (trompete)
Marlena Shaw & Bixiga 70
Ano/Local: 2015, Sesc Pompeia (SP)
Duração: 75 min
Classificação: Livre
Formação: Marlena Shaw (voz)
Bixiga 70: Décio 7 (bateria), Marcelo Dvorecki (baixo), Cris Scabello (guitarra), Maurício Fleury (teclados), Rômulo Nardes e Gustavo Cék (percussão), Cuca Ferreira (sax barítono/flautim), Daniel Nogueira (sax tenor), Douglas Antunes (trombone), Daniel Gralha (trompete)
Acesse e assista em sesc.digital
Ou baixe gratuitamente o app Sesc Digital (App Store e Google Play)
APLICATIVO SESC DIGITAL
Filmes de ficção, documentários, produções originais, shows, mostras e festivais dão vida à plataforma de streaming do Sesc São Paulo. Disponível para Apple e Android, o app Sesc Digital é uma ferramenta intuitiva com acesso gratuito a vídeos em até 4K. Compatível com Chromecast e AirPlay, permite ao usuário assistir às obras audiovisuais sem cadastro e gerenciar perfis para toda a família.
SESC DIGITAL
A presença digital do Sesc São Paulo vem sendo construída desde 1996, sempre pautada pela distribuição diária de informações sobre seus programas, projetos e atividades e marcada pela experimentação. O propósito de expandir o alcance de suas ações socioculturais vem do interesse institucional pela crescente universalização de seu atendimento, incluindo públicos que não têm contato com as ações presenciais oferecidas nas 40 unidades operacionais espalhadas pelo estado. No ar desde 2020, a plataforma Sesc Digital apresenta gratuitamente ao público conteúdos de diversas linguagens artísticas, como teatro, música, literatura, dança, artes visuais, entre outras.




0 Comentários