Por Welliton Girotto, CEO da Master Cidadania
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A nova edição do Relatório Italiani nel Mondo 2025, publicada pela Fondazione Migrantes, confirma o que há tempos sentimos na prática: a Itália está se movendo para fora.
São mais de 6,5 milhões de cidadãos italianos vivendo no exterior, o maior número já registrado. Pela primeira vez, o total de italianos fora do país supera o número de estrangeiros vivendo dentro dele.
Em 2024, 278 mil novas inscrições consulares foram registradas, alcançando um recorde histórico. A tendência não é episódica. É um ciclo em curso, que afeta jovens, profissionais, famílias inteiras e também aposentados.
Sim, há elementos econômicos envolvidos. Mas seria reducionismo explicar esse fenômeno como simples “fuga de cérebros”. Não se trata só de crise. Trata-se de vocação.
Um povo que sempre partiu e sempre voltou com mais
O italiano e com ele, seus descendentes espalhados pelo mundo carrega no sangue um tipo específico de inquietação: a curiosidade que se transforma em travessia.
Ao longo de séculos, a Itália se projetou não apenas por impérios, mas por famílias. Não apenas por comércio, mas por memórias. Cada vilarejo que viu partir um filho para a América do Sul ou para o norte da Europa hoje vê sua história continuar em outro idioma, com outro passaporte, mas com a mesma raiz. Esse movimento continua.
Hoje, as novas gerações que reconhecem a cidadania italiana por sangue não o fazem apenas por status. Fazem para pertencer de novo. Para circular com legitimidade. Para construir novos projetos sem esquecer de onde vieram.
A diáspora como ponte, não como perda
Na Master Cidadania, sentimos diariamente o que o relatório traduz em números: um desejo legítimo de conexão.
Italo-descendentes de todas as idades, alguns redescobrindo documentos da bisavó, outros retomando o idioma do avô nos procuram para transformar um vínculo afetivo em um direito jurídico concreto.
E o mais interessante: o movimento não é de ruptura. É de expansão.
A cidadania reconhecida judicialmente não tira ninguém da Itália, ela projeta a Itália para o mundo.
É por isso que a própria Fondazione Migrantes cunhou o termo “21ª região italiana”: uma região simbólica, feita de vozes, sobrenomes e histórias que vivem fora do território nacional, mas integram plenamente o corpo civil da República Italiana.
A responsabilidade de nomear o pertencimento
A Itália não está se esvaziando. Ela está transbordando e vejo com clareza: esse fenômeno não é desintegração, é continuidade.
Sim, há desafios: a burocracia, a lentidão, tentativas de cancelar direitos adquiridos no nascimento e nosso direito a pressão por reformas internas. Mas há também oportunidade. E sobretudo: há verdade nesse movimento. Uma verdade que nasce com o sangue, mas que se cumpre com documentos, processos e escolhas conscientes.
A 21ª região italiana não tem capital.
Mas tem memória, tem saudade, tem sobrenome.
Ela fala português, espanhol, francês e inglês — mas sonha em italiano.
E está mais viva do que nunca.




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