Atividades manuais ou em meio à natureza são opções para desconectar das telas, estimular a criatividade e o desenvolvimento de forma simples
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São Paulo, outubro de 2025 – O Dia das Crianças, celebrado no domingo, 12 de outubro, vai muito além de presentes e brinquedos. A data é uma oportunidade de reforçar a importância do brincar no desenvolvimento infantil, resgatando a essência da infância em um mundo cada vez mais acelerado e digital. Ao se engajar em atividades lúdicas, as crianças exercitam áreas do cérebro responsáveis pela criatividade, linguagem, raciocínio lógico e pela construção de memórias afetivas.
Nesse contexto, especialistas defendem que famílias e escolas aproveitem a data para oferecer aos pequenos vivências que unam diversão, aprendizado e conexão emocional, seja em casa, em ambientes externos ou em atividades comunitárias.
O avanço da tecnologia trouxe inúmeros benefícios, mas também aumentou o tempo de exposição de crianças às telas. De acordo com a educadora e gestora da Escola Internacional de Alphaville – EIA (Barueri/SP), Ana Claudia Favano, o uso excessivo de dispositivos digitais pode gerar impactos na qualidade do sono, na concentração e no desenvolvimento socioemocional. Por isso, o Dia das Crianças pode ser uma oportunidade de repensar esses hábitos e estimular alternativas saudáveis. “O excesso de telas afasta as crianças da socialização e reduz o tempo dedicado a brincadeiras criativas. Quando incentivamos jogos, histórias e experiências coletivas, oferecemos aos pequenos a chance de viver plenamente a infância e de fortalecer vínculos familiares”, afirma.
Para Renata Alonso, coordenadora pedagógica da Escola Bilíngue Aubrick (São Paulo/SP), em meio a uma rotina marcada por agendas cheias, cursos extracurriculares e pressões externas desde cedo, é fundamental lembrar que as crianças precisam, acima de tudo, ser crianças. Brincadeiras clássicas representam mais do que entretenimento: elas são ferramentas de desenvolvimento social, emocional e cognitivo. Segundo a profissional, práticas simples deveriam ser resgatadas com frequência, já que estimulam a imaginação, promovem a cooperação e ensinam a lidar com frustrações e conquistas. “A ludicidade é a linguagem natural da infância. É brincando que a criança experimenta, testa hipóteses, resolve problemas e constrói memórias que se tornarão referência para a vida adulta”, explica a educadora.
Atividades lúdicas ainda ajudam a trabalhar funções executivas, como atenção, memória, planejamento e controle de impulsos, além de desenvolver competências socioemocionais como empatia, resiliência e trabalho em equipe. “O ato de brincar tem efeito direto sobre o cérebro em formação. Jogos que envolvem movimento, por exemplo, fortalecem a coordenação motora e a consciência corporal; já aqueles que envolvem narração, contação de histórias ou invenção de personagens contribuem para o vocabulário, a oralidade e a criatividade”, diz Beatriz Martins, coordenadora pedagógica do Brazilian International School – BIS (São Paulo/SP). Ela afirma também que esse tipo de vivência vai muito além da diversão. “Quando uma criança brinca, ela não está apenas gastando energia: está treinando habilidades que serão fundamentais para a vida toda. Brincadeiras simples ajudam a desenvolver concentração, raciocínio, autonomia e até a capacidade de lidar com frustrações. É um processo de aprendizagem integral, que prepara o indivíduo para desafios dentro e fora da escola.”
Outro benefício das brincadeiras é o fortalecimento da relação entre pais e filhos. “Em um cenário em que muitas famílias enfrentam a correria do dia a dia, reservar um tempo para brincar juntos cria um espaço de escuta, acolhimento e convivência de qualidade”, diz a diretora do colégio Progresso Bilíngue (Vinhedo/SP), Luciane Moura. Segundo a especialista, momentos lúdicos em família aumentam a sensação de pertencimento, ajudam a reduzir o estresse e estimulam a construção de vínculos emocionais sólidos, que servirão de base para a autoestima e segurança das crianças. “Quando os adultos se dispõem a entrar no universo da criança e brincar de forma genuína, eles transmitem amor, cuidado e presença. Esses gestos simples geram memórias afetivas que acompanham o indivíduo por toda a vida”, acrescenta.
A seguir, confira brincadeiras indicadas para comemorar o Dia das Crianças em família.
1. CAÇA AO TESOURO TEMÁTICA
Passo a passo: Os pais podem esconder pequenos “tesouros” pela casa, como brinquedos, doces ou objetos interessantes. Devem criar pistas que levem de um ponto ao outro. A cada pista encontrada, a criança segue para o próximo lugar até encontrar o tesouro final. Escolher temas como “exploradores da floresta” ou “piratas” torna a experiência mais imersiva e divertida para a criança.
Explicação pedagógica: Essa atividade trabalha a coordenação motora, o pensamento lógico e a habilidade de resolver problemas, ativando áreas do córtex pré-frontal. A caça ao tesouro também fortalece o vínculo familiar, pois a criança participa de uma brincadeira elaborada pelos pais.
2. HORA DA HISTÓRIA INTERATIVA
Passo a passo: Escolha um livro de história ou invente uma narrativa onde todos possam participar. Cada membro da família pode dar ideias para criar personagens e decidir o rumo da história. Alternativamente, um tablet ou celular pode ser usado para criar animações simples ou desenhos digitais que acompanham a narrativa. Usar uma “caixa de fantasia” com acessórios simples para cada personagem pode enriquecer a brincadeira e incentivar o envolvimento.
Explicação pedagógica: Atividade trabalha o desenvolvimento da linguagem, imaginação e a expressão emocional, ativando o hemisfério esquerdo do cérebro para a lógica e o direito para a criatividade. Além disso, estreita a conexão emocional entre pais e filhos, criando memórias afetivas.
3. DESAFIO DAS ADIVINHAÇÕES EM FAMÍLIA
Passo a passo: Cada pessoa escolhe um tema (como animais, lugares, objetos) e faz adivinhações para que os outros descubram. Para tornar a atividade mais interativa, os pais podem criar dicas em cartões ou até usar um aplicativo de adivinhações que envolva gestos ou mímica. As crianças podem sugerir ideias para adivinhações, o que promove o protagonismo e a autoconfiança.
Explicação pedagógica: Adivinhações estimulam o raciocínio lógico, a memória e a linguagem verbal, ativando o córtex pré-frontal e temporal. Também incentivam a cooperação, pois todos se ajudam a encontrar a resposta certa, fortalecendo o senso de união e diversão em família.
4. OFICINA DE TECNOLOGIA E CRIAÇÃO (STOP MOTION)
Passo a passo: Com um aplicativo de stop motion (técnica de animação quadro-a-quadro) gratuito, os pais podem ajudar as crianças a criar uma animação com brinquedos, bonecos ou objetos da casa. A cada pequena movimentação dos itens, a criança registra uma fotografia, e ao final o app junta todas as fotos em um vídeo animado. Deixe que a criança escolha o tema e conte sua própria história, promovendo o pensamento autoral e a autoconfiança.
Explicação pedagógica: Essa brincadeira desenvolve habilidades de planejamento e paciência, ativando áreas de organização no cérebro, e incentiva o pensamento criativo. Trabalhar com tecnologia e ver o processo de criação em tempo real fortalece a curiosidade e a independência.
5. LABORATÓRIO DE CIÊNCIAS CASEIRO (EXPERIÊNCIA COM ÁGUA E CORES)
Passo a passo: Encha copos com água e adicione algumas gotas de corante alimentar de diferentes cores. Use papel-toalha para conectar os copos, e a água colorida irá “caminhar” de um copo a outro, misturando-se em cores novas. Pergunte à criança o que ela acha que vai acontecer antes de começar o experimento, promovendo a elaboração de hipóteses e o espírito investigativo.
Explicação pedagógica: Ensina conceitos de capilaridade e mistura de cores, ativando o córtex visual e áreas associadas ao processamento da curiosidade científica. Promove a observação e o interesse pela ciência, além de incentivar o uso de habilidades práticas.
6. CAÇA AO TESOURO NATURAL
Passo a passo: Prepare uma lista com itens da natureza para as crianças encontrarem, como folhas de diferentes formas, pedras coloridas, flores específicas, galhos, sementes etc. As crianças podem buscar os itens na natureza (em um parque, jardim ou até em uma área de mato) e trazer para casa, marcando os itens encontrados. Ao final, pode-se conversar sobre os objetos encontrados, suas características e funções no ecossistema.
Explicação pedagógica: Estimula o desenvolvimento cognitivo e científico a partir da curiosidade sobre o ambiente natural e os seres vivos, além de ajudar a criança a reconhecer diferentes formas de vida e seus papéis no ecossistema. A interação direta com a natureza favorece o desenvolvimento de empatia, conexão emocional e respeito pelo meio ambiente. Desenvolve ainda as habilidades de observação e a percepção sensorial.
7. OBSERVAÇÃO DE PÁSSAROS
Passo a passo: Pegue binóculos e um caderno para anotações. Junte as crianças em um local adequado para observação de aves, como um jardim, parque ou floresta. A criança pode observar os pássaros, anotar suas características (como cor, tamanho, comportamento) e tentar identificar as espécies com a ajuda de um guia de aves (físico ou digital). É possível fazer um jogo de "quem vê primeiro" ou premiar quem encontrar mais espécies durante a atividade. Essa brincadeira pode ser realizada em grupo, promovendo interação entre as crianças, ou individualmente, favorecendo o autoconhecimento e a expressão pessoal.
Explicação pedagógica: A observação de pássaros exige concentração e paciência, habilidades importantes para o desenvolvimento cognitivo. Aprender sobre a biodiversidade, as diferentes espécies de aves e suas funções no ecossistema pode estimular na criança uma ligação emocional com a natureza, despertando o interesse pela preservação de espécies.
8. PINTURA COM ELEMENTOS NATURAIS
Passo a passo: Reúna diferentes elementos da natureza, como folhas, flores, pedras e galhos. Usando tinta, os pais podem ajudar as crianças a imprimir texturas e padrões com esses elementos, como criar "selos" com folhas ou pintar com galhos para criar efeitos texturizados. Também pode-se utilizar a natureza para fazer os pincéis (usando galhos ou flores) e criar pinturas mais orgânicas.
Explicação pedagógica: Estimula a imaginação e expressão, permitindo que as crianças experimentem novas técnicas artísticas utilizando materiais naturais. A manipulação de elementos naturais e pincéis improvisados ajuda a desenvolver a coordenação motora fina. A conexão com o ambiente natural ajuda as crianças a entenderem e apreciarem a beleza e as texturas do mundo ao seu redor.
9. "HORA DO CONTO" NA NATUREZA
Passo a passo: Leve as crianças para um ambiente natural, como um parque, bosque ou jardim, e faça uma sessão de contação de histórias ao ar livre, relacionadas à natureza. Pode-se contar histórias sobre animais, plantas, aventuras na floresta ou mitos e lendas sobre o mundo natural. Após a história, incentive as crianças a desenharem ou representarem o que mais gostaram da narrativa.
Explicação pedagógica: A contação de histórias estimula a imaginação, o desenvolvimento linguístico, a linguagem e a compreensão verbal. Ao ouvir histórias relacionadas à natureza, as crianças desenvolvem empatia e ligação emocional pelos seres vivos e pelo meio ambiente. Contar histórias ao ar livre ainda reforça a conexão das crianças com o ambiente natural, criando um contexto positivo e emocionalmente enriquecedor.
10. CAFÉ DA MANHÃ TEMÁTICO EM FAMÍLIA
Passo a passo: Convide as crianças para planejar um café da manhã temático. Escolham juntos um tema, como “praia”, “floresta” ou “super-heróis”. Decidam os itens do cardápio e montem a lista de compras, se necessário. No dia do café, envolva as crianças na preparação: decorar a mesa com objetos que tenham em casa (como folhas e flores para o tema floresta) ou criar desenhos para enfeitar o ambiente. Durante a refeição, incentivem a imaginação, como fingir que estão em um piquenique na floresta ou em um café de super-heróis.
Explicação pedagógica: Essa atividade promove a autonomia, a criatividade e o senso de pertencimento, ao permitir que as crianças colaborem no planejamento e execução. Também estimula habilidades como organização, comunicação e imaginação, além de criar um momento significativo de convivência familiar.
11. RESGATE DAS BRINCADEIRAS TRADICIONAIS
Passo a passo: Converse com as crianças sobre brincadeiras que você ou outros familiares costumavam brincar na infância, como “amarelinha”, “esconde-esconde” ou “passa anel”. Escolham juntos uma ou mais brincadeiras e adaptem ao espaço disponível em casa ou no quintal. Por exemplo, use fita adesiva no chão para desenhar a amarelinha se não tiver um espaço ao ar livre. Explique as regras e incentive a participação de todos os membros da família para tornar a atividade mais dinâmica.
Explicação pedagógica: Essas brincadeiras valorizam a cultura brasileira e promovem a conexão intergeracional. Estimulam a coordenação motora, o raciocínio e a socialização, além de reforçar a importância de momentos simples e compartilhados, longe das telas.
12. CRIAÇÃO DE UM LIVRO DE MEMÓRIAS DAS FÉRIAS
Passo a passo: Durante as férias, incentive as crianças a registrar momentos especiais em um caderno ou folhas de papel. Elas podem desenhar, escrever histórias, colar fotos, ingressos de passeios ou folhas coletadas em caminhadas. No final das férias, dediquem um tempo para organizar as páginas, criando uma capa personalizada para o “Livro de Memórias”. Se possível, incluam relatos ou desenhos de outros membros da família sobre os momentos compartilhados.
Explicação pedagógica: A construção de um livro de memórias trabalha a organização de ideias, expressão artística e a valorização de vivências. Estimula habilidades cognitivas, como a narração e a criatividade, além de fortalecer os laços familiares e criar uma lembrança afetiva para o futuro.
As especialistas
Ana Claudia Favano é gestora da Escola Internacional de Alphaville. É psicóloga; pedagoga; educadora parental pela Positive Discipline Association/PDA, dos Estados Unidos; e certificada em Strength Coach pela Gallup. Especialista em Psicologia da Moralidade, Psicologia Positiva, Ciência do Bem-Estar e Autorrealização, Educação Emocional Positiva e Convivência Ética. Dedicada à leitura e interessada por questões morais, éticas, políticas, e mobiliza grande parte de sua energia para contribuir com a formação de gerações comprometidas e responsáveis.
Beatriz Martins é uma educadora inquieta, apaixonada por gente e por transformação. Atua há mais de 30 anos na educação, sendo 18 deles na liderança pedagógica, formando times, projetos e, principalmente, pessoas. Possui licenciatura plena pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Pós-graduação pelo Instituto Singularidades. Atualmente é coordenadora pedagógica no Brazilian International School (BIS).
Darlene Bocalini é formada em Pedagogia, pós-graduada em Alfabetização e Letramento, Psicopedagogia e Educação Inclusiva. Atua há 34 anos na Educação, sendo 18 anos no Colégio Progresso. Ao longo de sua jornada como docente, coordenadora e diretora, acompanhou a vida escolar de milhares de crianças, buscando sempre estabelecer relações de parceria e cuidado com as famílias.
Renata Alonso é formada em Pedagogia e pós-graduada em Psicomotricidade, com mais de 15 anos de experiência em educação bilíngue. Sua grande paixão são as crianças bem pequenas, e seus estudos são voltados à primeira infância, crianças de 0 a 3 anos. Com um olhar atento ao desenvolvimento integral dos pequenos, Renata acredita que essa fase da vida é crucial para a formação de indivíduos seguros, criativos e capazes de se expressar com confiança. Seu trabalho visa proporcionar um ambiente acolhedor e estimulante para o aprendizado, sempre com foco no cuidado e no afeto.
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