Refletir sobre a sabedoria é adentrar um território
denso e inevitável. Não se trata de um conceito abstrato, mas de algo que se
manifesta na vida cotidiana, moldado pelas experiências vivenciadas, pelas
dores e alegrias que acumulamos, e pela forma como o tempo se inscreve em nossa
memória e em nossos corpos.
O tempo, esse Senhor reverenciado como divindade em
tantas culturas, permanece à medida que nos escapa: corrói, cicatriza,
amadurece. Na fisiologia, marca rugas, reduz velocidades, mas também refina
percepções. O que antes parecia urgência inadiável, mais tarde se revela
detalhe menor. É nesse contraste entre juventude e maturidade que a sabedoria
encontra seu lugar, como um presente dado a quem aceita aprender com cada etapa
da vida.
Na chamada “escola da vida”, a sabedoria não se
limita à erudição, nem se restringe a diplomas ou títulos. Está no agricultor
que conhece o ritmo das estações pela simples observação do vento. No pescador
que sabe ler o mar ao perceber o movimento das gaivotas. Está também na
professora que, em décadas de sala de aula, aprendeu que ensinar é, antes de
tudo, escutar. São narrativas comuns que se tornam obras de arte cotidianas,
esculpidas na paciência, no silêncio e na entrega.
Nas artes, a sabedoria se traduz em exemplos vivos.
Machado de Assis, já em idade avançada, sintetizava nas entrelinhas de seus
romances o olhar arguto sobre as contradições humanas. Guimarães Rosa ensinava
que “mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende”. Cecília
Meireles, com a maturidade da poesia, lembrava que “a vida só é possível
reinventada”. Cada um, em seu ofício, fez do tempo um aliado criador, e não um
inimigo a ser combatido.
Em nosso cotidiano, encontramos igualmente sábios
anônimos: avós que narram histórias de resistência, trabalhadores que sustentam
famílias com dignidade, líderes comunitários que mobilizam pessoas sem esperar
recompensas. Sabedoria é, em essência, essa capacidade de transformar
experiência em ensinamento, de ressignificar perdas e de perpetuar valores.
Que possamos, diante do Senhor Tempo, nos permitir
aprender com humildade. A sabedoria não é ponto de chegada, mas caminho
contínuo — presente que se renova em cada encontro, em cada erro convertido em
lição, em cada gesto de generosidade que, silenciosamente, se inscreve na
eternidade da memória humana.
*Luiz Henrique Arruda
Miranda é Comunicador Social e CEO da Agência Amigo – Comunicação
Integrada, publisher do portaldohoteleiro.com.br; das revistas Skål São Paulo,
Visite Guarujá e diretor de Comunicação e Marketing da Skål Internacional Brasil.
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