Pouco antes das tarifas primitivas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos contra o Brasil entrarem em vigor, o país se prepara para o impacto do tarifaço imposto por seu segundo maior parceiro comercial. Os EUA mantém superavit com o Brasil que chegou a quase US$284 milhões (R$1,6 bilhão) em 2024, segundo dados oficiais. As principais exportações brasileiras para o mercado americano são petróleo bruto (12%), produtos semiacabados de ferro e aço (9,7%), café não torrado (5,8%) aeronaves e equipamentos, entre outros.
Maior exportador mundial de carne bovina e de frango, além de milho, café, açúcar e suco de laranja, o Brasil _ 10ª maior economia do mundo _ prevê um impacto significativo no setor agropecuário. A simples perspectiva da aplicação das tarifas levou à suspensão preventiva de embarques de carnes, frutas, peixes e grãos, segundo entidades empresariais. Em 2024, os EUA representaram quase 80% das exportações da indústria de transformação brasileira. O país pretende incrementar os vínculos comerciais com outros parceiros, como compensação. Em destaque potenciais aliados como União Europeia, México e Canadá. O perfil das exportações para a China, nosso maior parceiro comercial, tampouco parece adequado para substituir os EUA. Haverá impactos heterogêneos: é mais fácil relocar a produção do petróleo bruto ou café para outros países do que, partes de aeronaves como a Embraer. Nesta situação, os setores mais especializados vão sofrer mais. Os itens mais afetados pelo aumento das tarifas, serão o Petróleo Bruto; Ferro e Aço semiacabados; Café não torrado; Aeronaves e equipamentos; Carne Bovina; Frutas e Sucos; Pescados e Frutos do Mar e Equipamentos Bélicos.
Desde que Trump retornou à Casa Branca, passou a se envolver profundamente em questões geopolíticas, dentro do slogan de sua campanha presidencial "MAGA - Make America Great Again". Que as tarifas são as armas mais usadas por ele já ficou bastante claro. Vale ressaltar que tanto no Oriente Médio quanto na África e Oriente Médio, passando ainda pela invasão da Ucrânia pela Rússia, as posições do republicano são de idas e vindas, tipo morde e assopra. Compete ao Itamaraty estudar cada caso com atenção e não se render a especulações.
Na realidade, é desalentador observar os Estados Unidos, a primeira nação a reconhecer a independência do Brasil, lançarem uma ofensiva contra a soberania e as instituições nacionais. Causa estranheza ver aliados na Segunda Guerra Mundial, unidos contra o avanço do nazifascimo, se tornarem adversários em razão das circunstâncias políticas, principalmente após a reunião dos BRICS, onde o governo brasileiro, via o seu presidente, deixou claro o seu posicionamento relativo ao governo americano, ameaçando a hegemonia do dólar, principal moeda do mundo, justamente por ser menos volátil a decisões políticas, graças a uma muito cultuada independência do Sistema de Reserva Federal (FED) do Banco Central Americano. Nenhum outro país foi submetido a aumento de tarifas comerciais tão elevadas por razões essencialmente políticas. Numa visão comercial, onde somos os que mais sofrerão com esta tarifação, o país deveria interpretar como uma oportunidade de olharmos no espelho. Somos hoje um dos países mais fechados do mundo ao comércio internacional. Nossa economia segue pouca integrada, com baixa produtividade média e renda per capita estagnada há mais de quatro décadas, com exceção de algumas ilhas de produtividade industrial e do agronegócio, nosso único setor com real competividade internacional.
A abertura comercial é uma das reformas econômicas ainda pendentes. E, mais do que isso, é um imperativo para romper o círculo vicioso do protecionismo que alimenta ineficiências, distorções e desigualdades. Precisamos abandonar a ideia de que se proteger da concorrência global é uma forma de progresso. Soberania econômica real não é medida pela auto suficiência, mas por uma população educada, empregada, empreendedora, com oportunidades reais de mobilidade social. Em resumo, a tarifa de 50% dos EUA deveria ser vista menos como uma afronta e mais como um sintoma de um mundo que flerta novamente com o isolacionismo e a miopia econômica.
A melhor resposta brasileira não está em retaliar com as mesmas armas, mas em corrigir as nossas próprias, abrindo nossa economia. aumentando a concorrência e finalmente, completar a transição para um modelo de desenvolvimento sustentável, integrado e moderno. Daqui para a frente tudo pode acontecer. Vivemos um momento em cada dia é um flash. As notícias vão de boas a ruins, principalmente as que recebemos pela mídia com as chamadas de URGENTE.
Vamos manter os dedos cruzados. Ainda tem muita água para passar por baixo da ponte.
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