O atual chefe do Executivo adotou a estratégia de se dirigir diretamente à população, dispensando intermediários. Esse movimento reforça a conexão com sua base eleitoral, mas também expõe mais diretamente às cobranças sobre a condução da economia. E o desafio fiscal é um dos maiores obstáculos do governo. São objetivas as dificuldades para cumprir as metas na área: crescimento econômico modesto, arrecadação que pressiona o orçamento das empresas e dos consumidores e maior demanda por gastos públicos. As maiores dificuldades não estão nas novas ameaças que rondam o país após a posse do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nem nas iniciativas da oposição para o impeachment. São os gargalos fiscais que dificultam o equilíbrio das contas públicas. O governo bate recordes de arrecadação, porém, cresce o descontentamento com a carga tributária, que bateu no teto e repercute nas pesquisas de opinião.
Criar taxas e impostos deixou de ser solução, virou um problema político. Até agora, o governo tem apostado em medidas para elevar a receita, como a reoneração da folha de pagamento e a taxação de fundos exclusivos e offshores, mas o impacto pode ser insuficiente para cobrir as despesas. Além disso, a revisão de benefícios tributários enfrenta forte resistência no Congresso e no setor produtivo. A dívida pública virou uma bola de neve, porque cresce com os juros elevados, o que encarece o serviço da dívida e consome parte significativa do orçamento.
A decisão do Comitê de Política Monetária (COPOM) de elevar a taxa básica de juros da economia em um ponto percentual não será suficiente para conter a inflação no curto prazo, mas terá efeito imediato sobre os investimento produtivos. Isto porque o ajuste na Selic, adotado de forma unânime, chega no momento que os preços dos combustíveis estão sendo reajustados e vão pressionar os preços para os consumidores. A pressão dos combustíveis e dos alimentos deve aumentar as projeções de inflação para este ano.
Com esse cenário e com o aumento no valor da gasolina e do diesel pela Petrobrás, o trabalho do Banco Central praticamente não terá efeito sobre o controle de preços do curto prazo e será necessário uma nova alta na taxa básica para ver a efetividade de escalada dos juros no combate à inflação, deixando em aberto a possibilidade de um terceiro aumento em 2025, com a taxa chegando a mais de 15% ao ano, no maior patamar em quase 20 anos. Ainda assim, caso os preços não cedam, os diretores do Banco Central terão que puxar os juros mais ainda, o que será mortal para o PIB, cujas projeções devem começar a ser reduzidas nos próximos dias.
Mais do que buscar soluções mirabolantes para reduzir preços, o governo precisa buscar fórmulas de equilibrar as contas públicas. O presidente resiste em cortar gastos sociais. Pois então que determine outras ações que possam surtir efeito sobre as contas públicas, como combate efetivo à sonegação de impostos, que apenas neste primeiro mês do ano já soma quase R$50 bilhões. Dinheiro que deixa de ser arrecadado por ineficiência da máquina pública. Há sempre também formas de melhorar a eficiência do gasto público, assim como promover um enxugamento de ministérios e cargos. São exigências que ocorrem mesmo com a arrecadação de impostos batendo recordes, o que mostra o tamanho da necessidade de corte de gastos no Brasil. Sem um ajuste do governo nas contas públicas, a tarefa do BC no combate à inflação pode ser a mesma de enxugar gelo. E neste caso, a elevação de juros a patamares praticados há 20 anos, vai desacelerar ou até mesmo frear a economia, com impacto sobre a arrecadação de impostos, agravando a necessidade de corte de gastos. Caso não atue agora para equacionar as contas públicas, sinalizando para o mercado medidas que efetivamente tragam confiança aos investidores, o governo pode ser forçado no futuro a realizar o corte mais drástico, sob pena de a economia caminhar para crescimentos mais baixos ou mesmo uma recessão. O copo não está vazio, mas já não está pela metade.
Segundo alguns aliados do executivo, será difícil mudar a tendência de queda detectada nas últimas pesquisas. Para esses aliados, o trauma gerado pela história do PIX ainda vai repercutir por algum tempo. O desafio maior é em relação a algo bem mais concreto e permanente, o preço dos alimentos. Em 2024, a inflação foi de 4,83%, mas dados divulgados pela Associação Brasileira de Supermercados mostram que em 2024, a cesta básica subiu 14,2%. Isso afeta principalmente famílias pobres, onde o percentual de renda gasto com alimentos é bem maior. Importante ressaltar que não adianta falar que a inflação oficial _ que mede a variação de preços de diversos produtos e serviços _ ficou abaixo de 5% se, no supermercado, o consumidor vê o café subir mais que 40%; o óleo de soja 30% e o leite longa vida 19%, entre outros itens que pesam na conta final.
O problema maior é convencer o consumidor que fica irritadíssimo _ com toda razão _ no supermercado. E não há lábia presidencial capaz de superar o tamanho do problema.
O presidente precisa se convencer ou ser convencido de que austeridade e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.
0 Comentários