Apaixonado pela floresta e por leitura, menino ribeirinho viaja do Marajó até Washington em intercâmbio sobre meio ambiente


 

Parceria entre o Kennedy Center e a Vaga Lume levou Iarley Trindade, de 12 anos, até o festival internacional Reach to Forest no mês de março. Garoto pode falar sobre a vida na Amazônia e a necessidade de proteção da floresta
 

Quão longe a leitura pode nos levar? Um menino ribeirinho saiu de Portel, no arquipélago do Marajó, no Pará, para falar sobre a Amazônia em Washington DC, o epicentro do poder político dos Estados Unidos. Foram 18 horas de barco e dois dias de avião na maior aventura da vida de Iarley Barbosa Trindade, 12 anos. Ele faz parte do Programa Rede, da ONG Vaga Lume, que implantou biblioteca comunitária em Menino Deus na pequena comunidade onde ele vive o garoto. A paixão de Iarley pela floresta e pelos livros o levou ao Festival Reach to Forest neste mês de março. “Nunca imaginei viajar de avião. Ainda mais para ir contar sobre a minha comunidade!”, diz.
 

Crédito: Divulgação

O festival traz ambientalistas, cientistas, cineastas, jornalistas e artistas do mundo todo para programações gratuitas que aliam arte e meio ambiente. O evento é promovido há dois anos pelo Kennedy Center, um dos mais tradicionais centros de cultura dos Estados Unidos, fundado na década de 1970. Na edição de 2024, o Reach to Forest trouxe como tema a simbiose entre florestas e a intervenção humana, reafirmando a importância da floresta em pé e da sustentabilidade para um futuro melhor.
 
 

Com mais de 80 bibliotecas implantadas ao longo de 22 anos de atuação em comunidades indígenas, quilombolas e rurais da Amazônia Legal, a Vaga Lume foi uma das organizações escolhidas para participar do Reach to Forest por fomentar práticas que estão alinhadas com as metas do festival, como o empoderamento de crianças que vivem em comunidades remotas por meio da leitura, o que inclui educá-las sobre a importância da natureza, das florestas e da Amazônia em particular.
 

Da Amazônia para o mundo
 

Como representante da Vaga Lume, Iarley participou de um painel realizado no Children’s Theather, que reuniu cerca de 100 estudantes do Project Create, organização social de Anacostia, em Washington. Lá, ele falou sobre a comunidade Menino de Deus.
 

Localizada na pequena cidade de Portel, com pouco mais de 60 mil habitantes, a comunidade de Iarley experimenta uma revolução que ocorre por meio do acesso à leitura dos pequenos ribeirinhos: Desde 2009, a biblioteca em Menino de Deus funcionava em em espaços comunitários e em 2023 ganhou a sua sede própria.
 

O espaço dedicado exclusivamente à biblioteca comunitária implantado pela ONG amplia e fortalece o projeto, que beneficia diretamente 250 famílias da localidade. E impactou a vida de Iarley, que viajou mais de 5 mil quilômetros para contar essa história nos EUA.
 

“Foi uma oportunidade única de poder conhecer paragens novas. Nunca esteve nos meus planos viajar de avião, conhecer outro país, pessoas novas que, apesar de eu não entender a língua delas, foram muito legais”, conta. “A melhor parte foram os museus, monumentos, a Casa Branca que eu achei muito legal. O frio eu adorei. Pra cá pro Marajó é só calor. Então eu aproveitei bastante o frio”, relata o menino. “Em Portel é interior, então a gente só aprende coisas daqui mesmo, não aprende outras línguas. Meus pais nunca puderam conhecer outros lugares. Então tudo isso é muito especial”.
 

Crédito: Divulgação/ Iarley Barbosa Trindade e Aneeshwar Kunchala

Na aventura, Iarley participou de uma mesa ao lado do embaixador do festival, o garoto britânico Aneeshwar Kunchala, de oito anos. Apesar da diferença de idioma, a dupla logo se aproximou pela afinidade de serem apaixonados pela floresta amazônica. “O Aneeshwar é uma pessoa maravilhosa! Acabei me tornando amigo dele e espero que um dia ele chegue ao Brasil para a gente se encontrar novamente”, celebra.
 

Ao criar elo entre crianças e adolescentes comprometidos com o meio ambiente, o intercâmbio fortalece propósitos na construção de um futuro mais consciente. Pelas redes sociais, Aneeshwar celebrou a amizade com Iarley. “Eu estava esperando meses para conhecer esse menino incrível chamado Iarley, da Amazônia. Estou emocionado e animado por compartilhar e aprender mais sobre essa experiência incrível. Uma jornada linda e surpreendente começou aqui”, declarou o britânico.
 

Iarley também participou da recepção na casa da Embaixadora do Brasil em Washington, onde o projeto da Vaga Lume de incentivo à leitura na Amazônia foi apresentada a pais, crianças e adolescentes na Abrace - Associação de famílias brasileiras em DC.
 

Intercâmbio
 

A viagem foi proporcionada graças a parceria entre o Kennedy Center e a Vaga Lume, que promove uma edição internacional do Programa Rede, um projeto de intercâmbio cultural que coloca os jovens como protagonistas na defesa e proteção das florestas. Com o tema “Nós e Nosso Meio Ambiente”, as trocas começaram no final do segundo semestre de 2023 e continuam em 2024. Adolescentes que frequentam a biblioteca da Vaga Lume na Comunidade Indígena Atodi trocam cartas, vídeos e presentes com adolescentes da escola St. Philip Westbrook, da cidade de Warrington (Inglaterra). Já Iarley esteve em interação com a turma do Project Create, uma organização social localizada em Anacostia, em Washington D.C.
 

“Estar em um evento dessa proporção e promover um intercâmbio é uma forma de celebrar os mais de vinte anos de histórias do programa Rede e das comunidades da Amazônia. Essas trocas são oportunidades incríveis de compartilhar experiências entre quem vive na floresta com aqueles que querem protegê-la, mas estão longe. Essas interações culturais entre pessoas engajadas que moram em comunidades da região norte do Brasil, onde a Vaga Lume atua, com outros pares internacionais, sempre tem um impacto muito positivo, pois permitem que os participantes ‘viajem’ e ampliem seus conhecimentos e percepções sobre a floresta”, diz Priscila Fonseca, coordenadora do programa Rede, da Vaga Lume.
 

Sobre a Vaga Lume

Criada há 22 anos, a Vaga Lume está presente em 22 municípios da Amazônia Legal com 95 bibliotecas comunitárias. Desde 2001 já doou 163 mil livros e formou mais de 5 mil mediadores de leitura, voluntários que leem para as crianças, trabalho esse que já impactou a vida de 109 mil crianças e jovens. O seu propósito é empoderar crianças e jovens de comunidades rurais da Amazônia por meio da leitura e da gestão de bibliotecas comunitárias, promovendo intercâmbios culturais com a leitura, a escrita e a oralidade para ajudar a formar pessoas mais engajadas na transformação de suas realidades.
 

Em 2023, Associação Vaga Lume foi eleita pela terceira vez, sendo duas consecutivas, a Melhor ONG de Educação do Brasil pelo Prêmio Melhores ONGs do Instituto Doar. No mesmo ano foi contemplada pelo novo prêmio United Earth Amazônia, na categoria ESG, da sigla em inglês Environmental, Social, and Corporate Governance (Ambiental, Social e Governança) e, também, foi uma das organizações selecionadas em todo o mundo para receber uma doação da filantropa MacKenzie Scott. Em 2022 foi vencedora do Prêmio Jabuti na categoria Fomento à Leitura. Conheça o mini documentário Vaga Lume no YouTube e acesse o site da associação.

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