Especialistas em saúde mental de crianças e adolescentes dão dicas de como minimizar os impactos dos sons em épocas de festas
Muitas crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista apresentam uma propensão à hipersensibilidade auditiva, associada a outras disfunções na integração sensorial. Quando se fala, então, de fogos de artifício, nos deparamos sons estrondosos e repentinos que não são esperados. E com a aproximação das festividades de fim de ano, a apreensão dos pais em relação ao bem-estar de seus filhos tende a aumentar.
Existem relatos de pessoas dentro do espectro que afirmam sentir dor física quando estão expostos a barulhos altos. As crises geradas pela hipersensibilidade causam perturbação excessiva com ações involuntárias como agressão ou autoagressão, crises de choro, dores, entre outras reações. "Muitas crianças com autismo têm alteração no processamento sensorial tornando-as sensíveis (hipo ou hiper reativa) a estímulos sonoros, por exemplo. A criança com autismo processa informações de forma diferente e pode ter uma reação diminuída ou exacerbada a sons ou outros estímulos sensoriais", explica a Dra. Ariadny Abbud, especialista em terapia cognitiva comportamental com crianças e adolescentes.
Quando uma criança tem sensibilidade ao som, ou outro estímulo sensorial, estar exposta a esse estímulo aversivo, como os fogos de artifício, pode desencadear uma crise, gerando grande sofrimento e impacto para a criança. Por isso é importante que crianças com alterações sensoriais sejam acompanhadas por um profissional da terapia ocupacional, que trabalhe com integração sensorial, para que seja fornecido o suporte especializado necessário. "Juntamente com o TO, o psicólogo, ou analista do comportamento, vai pensar em estratégias comportamentais para auxiliar em situações em que a criança será exposta ao estímulo, bem como ensinar a criança a implementar as estratégias sensoriais propostas pelo TO, discriminar quando necessita de ajuda para se regular e ampliar o repertório de habilidades de regulação” pontua Dra. Nathalia Heringer, mestre em cognição e comportamento de crianças e adolescentes.
Com isso, a exposição deve ser planejada pelos terapeutas da criança de forma respeitosa e adequada ao nível de habilidades e consentimento da família e da criança, para que seus pais e familiares tenham as ferramentas e informações necessárias. "Nas situações em que a criança é exposta a estímulos aversivos podemos ajudar retirando-a do espaço, garantindo conforto e suporte emocional, ajudando-a a se regular e no caso de estímulos sonoros há abafadores que podem diminuir o impacto do barulho. Podemos também dar previsibilidade para a criança explicando anteriormente como será o evento, o que ela pode esperar, como será a duração do barulho e o que ela pode fazer se o estímulo à estiver incomodando. Não forçar a criança a ficar no local é importante, pois juntamente com a desregulação emocional é comum desencadear respostas de medo e ansiedade.” Completa Dra. Ariadny Abbud.
As especialistas em saúde mental infantil e adolescente, Nathalia Heringer e Ariádny Abbud, listaram medidas preventivas para os pais e responsáveis de crianças autistas, visando reduzir os impactos durante eventos com a queima de fogos:
- Esteja acompanhado por uma equipe de profissionais que ajude a pensar em estratégias específicas para o caso da sua criança diante das situações da vida real que vocês encontram mais dificuldade. Avisar a equipe de intervenção que irão passar o ano novo em um local onde haverá fogos de artifício, por exemplo, será uma oportunidade para pensarmos juntos estratégias para dar suporte à criança e à família.
- O melhor caminho é sempre aumentarmos o repertório de habilidades para a criança. invista em ampliar as habilidades do seu filho e o treino para situações da vida real.
- Peça aos profissionais que o acompanham para ensinar a você formas de estimular seu filho e estratégias de regulação. Os pais são os maiores especialistas de seus filhos e precisam estar ferramentados para auxiliar a criança nos desafios do dia a dia.
- Estejam cientes dos desafios que podem enfrentar em cada situação e construam com a equipe um plano de ação para as crises. Desta forma você se sentirá mais seguro para enfrentar a situação sabendo o que fazer.
- Não deixe de se expor a lugares e passeios que você gosta pela dificuldade do seu filho. É claro que precisamos respeitar as habilidades atuais dele e as necessidades, mas faça também aquilo que é importante para você. Ou pelo menos tenha um plano de conseguir retornar a essas atividades que você valoriza.
- O autismo não é uma corrida de 100 metros, e sim uma maratona. Então lembre-se que você precisa estar bem para percorrer todo o processo com seu filho. Você também importa nessa equação.
- Previsibilidade é uma estratégia muito útil. Explicar como será o local, o que esperar ou até mesmo usar uma história social para preparar a criança para a situação pode ajudar nesses casos.
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