A ceramista Paula Sousa apresenta a mostra Envase

 Paula Sousa reúne 7 artistas, Rosane Gauss, Regina Dabdab, Sandra Barreiro, Glauber Rodram, Odilon Claro, Edu Cardoso e Humberto da Mata, para interpretar e reimaginar garrafas de cerâmica de sua série Envase. As 7 garrafas cilíndricas com 45 cm de altura e 15 cm de diâmetro se tornaram símbolo do trabalho da ceramista. Para a mostra, estes objetos do cotidiano através de uma nova lente se tornam uma tela versátil para a exploração artística.

 

 

Peça de Edu Cardoso para a mostra Envase

 


Entre as obras, Rosane Gauss decompõe a garrafa evocando o estado de impermanência e Edu Cardoso cria uma nave barroca.
 

Envase: mostra coletiva

Rosane Gauss, Regina Dabdab, Sandra Barreiro, Glauber Rodram, Odilon Claro, Edu Cardoso e Humberto da Mata

Texto curatorial de Beth da Mata

Venda das obras com renda revertida para o Projeto Mandacaru (insta: Link)

Abertura: 11 de novembro de 2023, sábado.

Das 10h às 20h.

 

Período expositivo: 11 de novembro a 12 de dezembro

De segunda a sexta-feira, das 10h às 18h

Sábado, das 10h às 20h

Domingo, das 12h às 18h

 

Casa Olin

Rua Ferreira de Araújo, 315

Pinheiros, São Paulo
insta: Link
 

 

Texto Curatorial:


Envase: mostra coletiva

Rosane Gauss, Regina Dabdab, Sandra Barreiro, Glauber Rodram, Odilon Claro, Edu Cardoso, Humberto da Mata e Paula Sousa

 

Antes de começar essa escrita, preciso memorar um pouco sobre o que antecede todo esse desejo que mobiliza a produção da série “Envase” da ceramista Paula Sousa. E mesmo que imersa na produção de utensílios e desenvolvimento de collabs nesse viés, escapa, nesse fazer, nesse ofício, o desejo de também, mapear os seus afetos.

 

Paula nasceu em Angola, mas ainda criança, em 1975, seus pais portugueses precisaram fugir em meio à guerra civil e se assentaram em Avaré. Onde vive até hoje. É dado uma coragem aos que vivenciam os horrores de uma guerra, e com ela, forjam capacidades emocionais em modos de sobreviver na construção de novas memórias.

 

Envase pode ser um desses modos de captura dos afetos. A cada nova partilha de um encontro, de um lugar, Paula traz literalmente consigo, elementos que possam ser reproduzidos na sua maior beleza, na beleza do afeto. Envases guardam essas boas memórias, mas também guardam o desejo, um porvir de um novo afeto, como por exemplo, na garrafa Grek, de uma Grécia ainda por conhecer e desvendar. Em “Gota”, nos lembra que é preciso desfrutar dessas memórias até a última gota desses belos encontros que a vida nos oferece. E foram muitas outras tantas lembranças desde então..., todas as garrafas da série Envase são acompanhadas de um breve contexto e localização geográfica.

 

O que uma garrafa pode provocar ou suscitar inconscientes de subjetividades? Para essa primeira edição, Paula Sousa decidiu desafiar 7 convidados para recriarem a partir da garrafa Calle Real, que foi produzida numa modelagem maior do que a original. E cada um, ao seu modo, interferiu nessa cartografia afetiva de

 

Paula Sousa com novas camadas de subjetividades ou transferindo para o objeto, suas pesquisas individuais.

Regina Dabdab interferiu com corais “retirados do fundo do mar” numa exitosa experiência com a impressora 3D. “Pensei em uma garrafa resgatada do mar e então comecei a grudar corais feitos em 3D e plantas secas”. Daddab marca o tempo, imagina uma memória futura. Elementos marinhos subvertem a alusão às garrafas lançadas ao mar com cartas de amor ou pedido de socorro, mas a entender o campo do sensível da natureza e que não fazemos parte dela, somos também. Seria uma carta de amor para o mar?

 

Rosane Gauss, enxergou na matéria dura da cerâmica, o pó que antecedeu ao barro, e, seguindo a sua pesquisa artística, tratou de ritualizar esse processo do pilar a garrafa, a matéria e transformar em pó, como num (re)elaborar e (re)existir em nossa matéria viva; perceber-se a si mesmo para enfrentar a impermanência dela. Já para Humberto da Mata, modelar o barro é desejo, intuição e liberdade e memorou o seu embate com a argila e nas suas frustações anteriores e por isso, decidiu por manter a garrafa assim, tal qual recebeu. O desafio o fez transpor da sua atual pesquisa, o azul esparramado, escorrido... e para fechar, um elemento sólido, porém, supondo-se gasoso. A garrafa lhe chegou sem indicações ou roteiros, mas sem dúvida, o afetou.

 

O que um paisagista poderia imaginar a não ser inventar um mundo particular? Eles fazem isso com as plantas, não é mesmo? Para Odilon Claro, a garrafa lhe despertou um desejo anterior quando tempos idos fez um estudo para uma gravura em chapa de cobre, seu material usual em suas esculturas e projetos de jardinagem. Imaginou reproduzir esse mesmo sonho na garrafa, porém, ao se deparar com a matéria e suas formas, esse mundo lhe rendeu outros devaneios e cresceu. Com o mesmo lápis de cor e a tinta nanquim usual nos seus projetos, Claro desenhou e coloriu um mundo sensual e perfeito para ele, porém, lhe escapou algo do seu inconsciente, diferente de suas figuras humanas comuns nos seus projetos, elas receberam vendas de cobre nos olhos.

 

Se a série Envase se traduz em memórias, Glauber Rodran funde a cerâmica ao rami e a palha de bambu pousa em forma de borboleta que para ele, faz uma alusão às relações humanas e suas conexões. Já Sandra Barreiro usou o coração, elemento bastante utilizado nas suas produções e diz: “é uma das formas que mais gosto de expressar toda minha gratidão pelas parcerias que a vida me proporciona”.


Foi bonito ver o artista Edu Cardoso, sensível ao chamamento da sua conterrânea, trazer memórias de afeto da cidade de Avaré. A garrafa está de ponta cabeça e repleta de elementos da Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores. Diferente das demais, nas mãos dele, perde seu estado original e se transforma numa torre ou nave produzida com detalhes minuciosos da arquitetura e adornos como vitrais. E ainda podemos ver através da janela, o piloto, ou seria o Edu? Onde guardamos as nossas cartografias pessoais? Paula Sousa nos brinda com esse gesto de re (existir) no mundo.

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