E O ANO ESTÁ SÓ COMEÇANDO ...

  



O resultado do IPCA de fevereiro mostra que a economia ainda está oscilante no país. Alimentos continuam subindo. Educação foi a vilã da vez, pelos reajustes nas matrículas, nas creches, escolas e universidades. Porém, a premissa de que os índices vão mudar devem ser cautelosas, pois, neste mês de março, os combustíveis vão pesar, com os encargos do PIS/Cofins. Ou seja, é preciso um equilíbrio na equação para as contas ficarem no azul. 

A Reforma Tributária pode ser uma solução, mas não a única. Com ela, viria um efeito cascata, com outros indicadores sendo reajustados. O modelo econômico PT de ser quer juros baixos, para atrair investimentos e fazer a máquina de obras andar. Porém, o cenário para o Banco Central ainda não é animador para fazer a Selic voltar a um dígito novamente. Neste jogo, os personagens vão ditando as regras e as cartas, mas nenhuma mão vitoriosa é vista entre os jogadores.  Tudo sendo feito com cuidado para todos saírem ganhando e ninguém perdendo. Outros índices da economia, analisados tanto pela FGV quanto pelo IBGE, mostraram altas em fevereiro. Alguns tiveram baixas, evidente, mas ao que tudo indica, o cenário ainda é de mexer o mínimo possível, para não assustar o mercado e o consumidor. 

Em maio, com o reajuste do salário mínimo e da tabela do Imposto de Renda, uma nova visão da economia pode ser vista. Até lá, espera o governo, a Reforma Tributária esteja sendo apreciada pelo Congresso Nacional. Aliás, ela é o grande desafio desta gestão, pois está sendo defendida por vários ministros, de diferentes áreas e correntes econômicas. Ou seja, é quase um por todos e todos por um. Resta saber se isso acontecerá, ou não. Mesmo assim, o IPCA deste mês, com os avanços nas conversas do novo arcabouço fiscal do país, pode dar um parâmetro se o Governo e o Banco Central chegarão a um denominador comum na questão da Selic, pois, se a inflação ficar alta novamente, provavelmente só com a nova tributação para convencer a queda dos juros no país.

A reforma que o governo deseja aprovar no Congresso busca, simplificar o sistema tributário, unificando diversos tributos que hoje são cobrados sobre a produção e comercialização de produtos e serviços. A proposta que pode aumentar a produtividade da economia e alavancar o crescimento, é debatida há décadas no país. Ela tem enfrentado dificuldades para sair do papel porque impacta interesses de diferentes setores econômicos e mexe na arrecadação da União, de Estados e municípios, demandando assim ampla negociação. Além da simplificação do sistema. o governo defende também a criação de um mecanismo que devolveria aos mais pobres o imposto cobrado sobre o seu consumo, medida que contribuiria para reduzir a elevada desigualdade de renda no país. A ideia é que essa devolução substitua desonerações que hoje beneficiam toda a população, sem distinção entre ricos e pobres, como o caso da cesta básica. A proposta implicaria que o novo imposto tenha uma alíquota um pouco maior para os segmentos de renda média e alta, mas o governo argumenta que o impacto geral da reforma continuaria beneficiando todos os grupos sociais devido aos ganhos de crescimento econômico.

Todos sabemos e não é surpresa para ninguém que o mercado financeiro não morre de amores pelo governo atual. O que surpreende é o nível de desaprovação da nova gestão. Uma pesquisa realizada pela Quaest a pedido da Genial Investimentos constatou que 98% dos executivos que administram fundos de investimentos consideram que a agenda econômica está equivocada, enquanto 78% acham que o país deverá piorar nos próximos doze meses. Outros 73% acreditam que há risco de recessão em 2023. Por mais que o estudo retrate apenas uma parcela do mercado, pois foram consultados profissionais que trabalham em São Paulo e no Rio de Janeiro, a realidade é que a indústria financeira demonstra uma repulsa exagerada ao governo petista. De fato, há sinais preocupantes na economia, como o desejo de reduzir juros na marra e o desprezo por privatizações, mas o tempo curto da gestão sugere que se ofereça aos novos administradores do país o benefício da dúvida. 

O Banco Central vem ressaltando em todos os seus documentos oficiais que um arcabouço fiscal consistente é fundamental para que as desconfianças diminuam, a inflação se mantenha sob controle e a política monetária possa ser menos restritiva. Um bom sinal é que especialistas acreditam que os juros devem começar a cair a partir de junho. Em nível internacional, mesmo com toda a pressão contrária por causa da crise financeira global, o Banco Central Europeu elevou os juros em 0,5%. O Federal Reserve dos Estados Unidos também deve elevar o custo básico do dinheiro, em torno de 0,25 ponto percentual. São tempos complexos. Governos e reguladores devem estar prontos para agir tempestivamente a fim de evitar solavancos que possam empurrar a economia para o atoleiro, prejudicando, principalmente, os mais pobres. A crise financeira de 2008, completa 15 anos com muitas lições. O que se espera portanto é que bom senso e agilidade devem prevalecer. Não se espera que se reduza os juros por decreto ou no grito, até porque a autoridade monetária tem sua independência definida em lei. O fato é que a instituição tem a exata noção de que a economia brasileira não aguentará conviver com uma Selic tão elevada num contexto de crise financeira global que, certamente, empurrará o mundo para a recessão. Como consequência, pode resultar em forte contração do crédito no país e a queda dos preços das commodities que, mais à frente, darão um alivio adicional na inflação.

Neste cenário, fica a convicção que o Banco Central do Brasil tem todos os instrumentos para bem cumprir suas missões. É o que esperamos!


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