DEMOCRACIA É A PALAVRA DO MOMENTO

 


Creio que todos concordam que em todos os meios de comunicação, de forma escrita, falada e divulgada, a palavra democracia está na ordem do dia. A origem da mesma vem do grego dêmokrátia, de dêmos "povo" + kratía "força, poder", sendo um regime em que há liberdade de associação e de expressão e no qual não existem distinções ou privilégios de classe hereditários ou arbitrários. É o governo em que o povo exerce a soberania, tendo como recompensa a liberdade, que é o livre arbítrio, o uso dos direitos do homem livre. No entanto, se fizermos uma breve passagem pelo momento que estamos vivendo em nosso país, vamos nos surpreender como esta palavra, liberdade, está sendo vilipendiada. As teorias da conspiração substituiram a razão e as percepções subjetivas, o observação objetiva. Fatos foram soterrados para dar espaço a sentimentos. soluções mágicas e benefícios egoístas assumiram o lugar da lógica. Estamos mais divididos do que em qualquer momento que o passado recente registra. Nas últimas eleições, as pessoas que se sentiam desconfortáveis com o candidato oponente atacavam seus entusiastas de forma ferina; romperam amizades e elos familiares com os que não compartilhavam da mesma opinião. Muitos viveram um sonho com fuga da realidade, sem querer aceitar tudo o que está acontecendo.  É lógico que concordamos em não haver nada de mal em ter ideias opostas; o problema é a radicalização, como se o oposto fosse sempre o mal. Como se Deus e diabo fossem transposto para a política, tornando impossível um debate racional. 

Praticamente toda a confiança nas principais instituições ruiu. Até as forças armadas sofreu as consequências. Mesmo o governo eleito tomou atitudes surpreendentes. Numa sexta feira, em Brasilia, tinha ao lado do presidente um comandante do exército de inteira confiança e no sábado já o substituiu exatamente por falta de confiança. E com isto, cada vez menos pessoas se sentem satisfeitas com a democracia que vivemos. Relatam ter perdido a fé na liberdade e muitos ainda declaram que nunca chegaram a acreditar nela. Essa cisão brutal se alastra por todos os aspectos da malha social. São várias as hipóteses a analisar: há os que culpam a expressiva desigualdade econômica pela atual desintegração política e social. Muitos críticos e políticos argumentam que a desigualdade de renda gera um conflito inédito na vida de todos. Defendem que muitos se sentem deixados para trás pela nova economia globalizada e que tanto o leve protecionismo quanto o redistribucionismo curarão estas feridas. Os conflitos políticos são um substituto das feridas econômicas e raciais mais latentes que reabriram nos últimos tempos. 

O acadêmico e escritor francês Jean d"Ormesson faz uma impecável descrição do momento, inventando inclusive uma palavra, a ineptocracia que descreve com perfeição a democracia no Brasil: "é o sistema de governo no qual os menos preparados para governar são eleitos pelos menos preparados para produzir e no qual os menos capazes de se auto sustentar são agraciados com bens e serviços pagos com os impostos e confiscos sobre o trabalho e riqueza de um número decrescente de produtores". Em resumo, os que nada sabem e pouco produzem põem no poder os que pouco sabem e nada produzem, para que estes administrem as riquezas, os bens e os serviços confiscados daqueles que algo sabem e algo produzem. 

É importante acreditarmos que o governo não tem o direito de se intrometer no exercício de sua vontade individual, que somos capazes de melhorar o país pelo uso de nossa razão, nos sentindo compelidos a fazê-lo por um propósito maior, podermos lutar em direção oposta ao precipício. Não podemos perder a fé na liberdade de expressão, na democracia, na liberdade econômica, na ideia de uma moral ou causa comum. Esse afastamento de nossos valores começou quando, antes de qualquer coisa, perdemos a fé no caminho que nos trouxe até aqui. Podemos perder tudo um uma geração a menos que escoremos nossas fundações. Precisamos parar de cavar e começar a reformar. para tanto, esta tarefa exige que reexaminemos essas fundações, tijolo por tijolo. Está claro para todos que o Brasil já perdeu tempo demais. Devido a tantos anos de descaso dos políticos, a imagem do nosso parlamento é péssima. Para virar este jogo, será necessário efetivamente, que o congresso recém empossado, se concentre no que realmente interessa à sociedade. Pautas ideológicas, pautas-bomba, nada disso está no radar daqueles que anseiam por dias melhores. O momento é de urgência. Há uma década, o Brasil não sabe o que é crescimento econômico robusto, com distribuição de renda. Na média, neste período, o PIB foi inferior a 0.5% ao ano. É inaceitável que os responsáveis considerem normal este quadro de estagnação. 

É fundamental que os legisladores liderem um movimento que resulte na melhora do ambiente de negócios. Há dinheiro de sobra no mundo em busca de boas oportunidades. Contudo, os investidores cobram, com razão, segurança jurídica e estabilidade política. O crescimento econômico é o caminho mais eficaz. O país, independentemente dos retrocessos, continua a ser um manancial de oportunidades. Precisa apenas que seus políticos, os que decidem e os que fazem as leis, tenham a grandeza de exercer seus papéis com competência e respeito. 

O que vemos é que o país está dividido e não é de agora. Quem estava contra o governo nos últimos quatro anos agora é vidraça. Quem era vidraça, agora é pedra. Temos que nos conscientizar que oposição e situação são essenciais para o fortalecimento da democracia. Nestes últimos quatro anos os dois lados se queixaram do adversário. A tentação agora é dar o troco. Como oposição e como governo. O presidente falou, na Argentina, em "tentações autoritárias que até hoje desafiam nosso democracia".

No Brasil até o passado é imprevisível mas, lembremos que a esperança é a última que morre. Repetimos o que já colocamos anteriormente, que o Brasil não é para amadores. O problema é que faltam profissionais.  

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