O BRASIL NÃO É PARA PRINCIPIANTES ...


Voltamos às urnas no último domingo para definir quem governará o país nos próximos quatro anos. Nunca vimos, desde a redemocratização, uma disputa tão acirrada e tão radicalizada. E pouco se debateu sobre o futuro do país. A importância que o momento exigia teve como resposta minguadas propostas que chegaram aos mais de 156 milhões de eleitores aptos a votar. Os desafios a serem enfrentados a partir de janeiro de 2023 serão enormes. O que ressalta, independente da frustração com os programas de governo, é a reafirmação da democracia brasileira. O regime que escolhemos e que está consagrado na Constituição Federal, demonstrou que está mais vivo do que nunca. mais do que nunca ficou comprovado por todos que não pode existir qualquer possibilidade de abrir mão desta conquista, cujos defeitos são menores do que as virtudes. O maior compromisso do país, ficou claro a todos de que não haverá retrocessos, sendo as eleições diretas a mais clara expressão. 

Como no primeiro turno a paz prevaleceu, tivemos a tranquilidade para sair de casa e exercer a nossa cidadania sem medo. Mostramos ao mundo que a escolha para presidente foi realizada em clima de festa democrática, em que todos têm voz.  Totalizadas as urnas, consolidado o resultado e escolhido o dono da faixa presidencial para o próximo mandato, proliferam análises de que o país corre o risco de caminhar para questionamento mais ou menos institucionalizado do resultado da eleiçâo mais polarizado desde a redemocratização. Tal situação não poderia ser mais danosa às necessidades de um país que já passou os últimos meses imerso em uma paralisia eleitoral, dividido, não só em nível político, mas também social, e em clima de expectativa, até mesmo em termos de atividade econômica.

Por mais rachado que o país saiu das urnas com um vitória apertada, é imperioso que o Brasil retome o enfrentamento vigoroso de suas demandas socioeconômicas e administrativas e que não desperdice os últimos meses do ano apenas imerso em um debate que só tende a atrasar esta necessidade urgente. É preciso que o país e seus principais atores políticos desçam do palanque e passem a administrar o final deste ano, de uma forma republicana, como preparação para os próximos quatro anos de mandato. por mais que a campanha eleitoral tenha deixado feridas abertas, cicatrizes precisam ser tratadas nos fóruns devidos. Temos que respeitar a voz soberana das urnas e este é o primeiro passo para que o país, e todos os seus cidadãos, possamos começar um processo de reconciliação imprescindível para que o desemprego siga recuando, para que a economia acelere no caminho da recuperação, para que os desafios da pauta ambiental sejam atacados e, principalmente, para que as demandas da parcela mais vulnerável dos brasileiros, que antes de eleitores são cidadãos, sejam ouvidas. O cenário já mostra os imenso desafios do próximo presidente na área econômica, que vão desde o controle das contas públicas e da inflação com a perspectiva de desaquecimento de 2023 até a conciliação das atividades agropecuárias e extrativas com a agenda de conservação ambiental, passando pelo atendimento a 33 milhões de brasileiros em situação de insegurança alimentar e por medidas para fortalecer o mercado de trabalho, muito embora o desemprego tenha recuado para 8,7%, ainda existem 39,1 milhões de trabalhadores ilegais, sem garantias legais. Dinamizar o crescimento da economia num ambiente de desaceleração em todo o mundo é outro desafio da equipe econômica do novo governo.

Controlar efetivamente a inflação será o desafio inicial com o valor das commodities e, principalmente, do petróleo pressionando os índices de preços em todo o mundo. O aumento dos preços é um problema mundial, mas terá que ser controlado no país. Outro grande desafio será equilibrar as contas públicas. O déficit atual deverá subir, pressionando a regra do teto de gastos que caso seja atingido, o governo corre o risco de ver a máquina pública sem ter como funcionar. Necessário será atrair investimentos para a infraestrutura e para a produção, buscando parcerias com o setor privado,  para obras em estradas, portos, energia, telecomunicações e em projetos de setores estratégicos como fertilizantes. 

Nestas eleições fomos obrigados a lidar com uma enxurrada de notícias falsas, muitas atentando contra o regime democrático. Este descalabro foi facilitado pelas redes sociais. Que estas eleições sejam um momento de reconciliação de amigos e familiares, cujas posições políticas levaram ao afastamento e ao rompimento. Governos passam. Discordâncias são salutares para solidificar a democracia. É na guerra de ideias que está a direção para um país melhor e mais próspero. No debate construtivo, não há espaço para ódio e rancor. Pelo contrário. Todos nós que votamos conscientes, tenhamos a grandeza de lembrar que nossas escolhas terão reflexos por longos anos em nossa vida, dos filhos e netos. Lembremos de fato ocorrido nas eleições de 2008, nos EUA, quando o republicano John McCain, no discurso em que admitiu a derrota para o democrata Barack Obama, afirmou de forma humilde e ao mesmo tempo grandiosa: "Ele era meu oponente. Agora é meu presidente".

O Brasil, certamente, será uma nação mais próxima e menos desigual, com a nossa participação ativa em um pacto nacional em torno de valores democráticos, sociais e ambientais. É o que esperamos!  

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