ATUALIDADES MACHADIANAS

ATUALIDADES MACHADIANAS

Mario Vargas Llosa, escrevendo sobre seu colega de classe, José Miguel Oviedo, por ele considerado o precursor da crítica literária no Peru (e o melhor de todos), fez esta afirmação: “Sem uma crítica de alto nível, todo movimento cultural é amorfo e se desfaz na confusão. Somente os grandes críticos são capazes de estabelecer hierarquias, dar uma ordem de ideias e valores ao que, em princípio, parece uma selva.” (Companheiro de carteira escolar, In O Estado de São Paulo, Caderno 2, p.C6, 06/01/2020).
E não é que Machado de Assis, em texto de 1865, já dava o caminho das pedras àqueles que buscam exercer essa árdua, mas imprescindível missão? Assim ensinava o mestre, se bem que se referisse apenas à poesia: 
“Exercer a crítica, afigura-se a alguns que é uma fácil tarefa, como a outros parece igualmente fácil a tarefa do legislador; mas, para a representação literária, como para a representação política, é preciso ter alguma cousa mais que um simples desejo de falar à multidão...
“Quereis mudar esta situação aflitiva? Estabelecei a crítica, mas a crítica fecunda, e não a estéril, que nos aborrece e nos mata, que não reflete nem discute, que abate por capricho ou levanta por vaidade; estabelecei a crítica pensadora, sincera, perseverante, elevada, - será esse o meio de reerguer os ânimos, promover os estímulos, guiar os estreantes, corrigir os talentos feitos; condenai o ódio, a camaradagem e a indiferença, - essas três chagas da crítica de hoje, - ponde em lugar deles a sinceridade, a solicitude e a justiça, - é só assim que teremos uma grande literatura.” (O ideal do crítico, In Obras completas de Machado de Assis, Crítica & Variedades, São Paulo: Globo, 1997, pp.11-12).
É como sempre digo: O Bruxo do Cosme Velho permanece atualíssimo.

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