É COMO ME DESPEÇO.

É COMO ME DESPEÇO.

E eu que pensei que tivesse jogado a toalha neste final de ano...
Mas como acordei bem, e praticamente recuperado das moléstias que me minaram as forças ao término do feriado da proclamação da república  virose, seguida de gripe, e da tosse consequente, que persiste –, alternativa não tive senão a de ligar o computador e deixar a comichão da escrita fluir, terapia mais que recomendável a qualquer escritor que compreenda valor do tempo.
Daí que gostaria de compartilhar com você, amigo leitor, dacontecimento que mais me tocou nesse ano que se vai
Não me refiro às deliciosas viagens que fiz com minha família e amigos, aos textos que publiquei e que tiveram excelente acolhidaaos prêmios literários que ganheie que me encheram de alegria e estímulo, nem ao fato de estar escrevendo meu próximo romance e a minha nova coletânea.
Tudo isso foi e é precioso. Mas, ainda sim, está longe de ser a passagem que mais me comoveu nesse ano de grandes transformações.
Corrija-me se estiver errado, caro amigo, mas acho que estou captando uma sua curiosidade além da normal, pois não?
Como? Você deduziu que minha esposa está grávida?! Não!... (alívio e risadas)Mas, com certeza, teria sido a razão que bastaria a esta crônica.
O quê? Você está apostando, então, que algo de ruim que me aconteceu? Também se equivocou. Aliás, e na contramão do que fazem muitos amigos nas redes sociais, eu não creio que tivesse coragem de revelar as minhas agonias para um sem-número de pessoas. – Machado de Assis, contudo, ampararia essa atitude, pois já dissera ser um alívio, a quem sofre, escrever e tornar público o infortúnio que mortifica.
Mas por quecargas-d’água, não revelo logo o que mais me emocionou neste ano que termina?!
E saciar, assim, num átimo, a curiosidade que belisca e que cresce a cada linha bem traçada? Não teria graça nenhuma.
Daí que o melhor a fazer é voltar para o mês de agosto...
Calma ao precipitado. Não é porque sou leonino que o episódio que mais me sensibilizou teria acontecido, justamente, no meu aniversário. Haja narcísica coincidência!
É verdade que no mês em que se aniversaria a tendência é ficar sempre mais empolgado, na expectativa de que boas coisas comecem a pipocar. Ora, quem já não ouviu que a partir dessa data o inferno astral acaba e um novo (e melhor) ciclo tem início?
Pois como não fujo à regra, lá estava eu aguardando que meu aniversário chegasse, contando os dias para que o décimo segundo alvorecer surgisse repleto de alegrias, surpresas e, se possível, com um e outro presentinhos.
No entanto, a par dessa data memorável, e dos muitos aniversários que acontecem no mesmo mês – mãe, sogro, primas –, há também outro dia que jamais poderá ser esquecido. É o Dia dos Pais.
Ah! Então você conclui que foi nesse dia que aquele evento maravilhoso aconteceu, correto? Lamento informar, mas se equivocou novamente. E explico:
É óbvio que fico superfeliz quando sou acordado pelo filhão no Dia dos Pais. É incrível como ele consegue se esgueirar pelo quarto, “sem que eu perceba” o seu deslocamento ninja. E é claro que fico radiante quando recebo o seu presente, bem como o da minha querida esposa, que, pasme! não sabia de nada.
Mas por melhor que seja aquele dia (essa manhã)esses gestos amorosos serão sempre e previamente sabidos. Nunca, uma surpresa.
Nunca?! Será mesmo?...
Pois três dias antes do Dia dos Pais, meu filho me chamou à parte – minha esposa tinha saído –, e me pediu que fechasse os olhos e que esticasse as mãos.
Fiquei ressabiado e disse não.
Ele, então, insistiu, garantindo-me que não faria nada que me deixasse chateado.
Acabei aceitando.
Senti que colocara algo em minhas mãos. 
Quando abri os olhos, demorei alguns segundos para perceber o que era – um simples chaveiro. 
No entanto, ao virar a pequenina chapa de metal ovalada, li as seguintes palavras, gravadas em amarelosobre um fundo azulSUPER PAI. – O filhão não aguentou esperar até o Dia dos Pais e resolveu antecipar o presente.
Não preciso dizer que abracei com todo o meu amor – confesso que exagerei na pressão do abraço –, que o cobri de beijos, e que meus olhos ficaram úmidos.
também não preciso mencionar que meus olhos ainda agora represam lágrimas...
Pois é compartilhando desta alegria, amigo leitor, que eu me despeço de vocêtendo a convicção de que minha literatura o agradou em 2019e botando fé que ela o agradará no ano que está por vir.

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