Da Telona Para A Prancheta


Li no jornal que Vingadores: Ultimato, filme a que fui assistir com minha família, ultrapassou Titanic no quesito bilheteria, e, pelo menos até a conclusão desta crônica, ainda não tinha superado o primeiro colocado, o azulado Avatar.
As cifras são bilionárias (e em dólares!), o que demonstra, e à exaustão, que quer venha da Marvel, quer da DC Comics, a onda dos super-heróis está mais para um tsunâmi com prazo de validade indeterminado do que para uma dessas marolas de oportunismo que se dissipam em poucos dias – os filmes produzidos a toque de caixa, apenas porque os fatos reais em que se basearam causaram comoção.
Interessante que nunca fui um entusiasta desse gênero. Mas como só falavam nesse filme, e como, para agradar ao filhão, tivéssemos ido assistir ao episódio anterior, em que metade do Universo tinha desaparecido com um simples estalar de dedos, quis saber qual seria o destino reservado ao malvado Thanos, a quem passei a desejar que levasse uma bela sova.
Fica tranquilo, amigo leitor, que também abomino spoilers. Assim, caso você ainda não tenha assistido a este último épico, não direi o final. – mas que ele morre no final, ah! não tenha dúvida!
De outra parte, não só fiquei esperançoso quanto ao destino imposto a alguns dos outros heróis vitimados por Thanos, pois bem sabemos que basta uma canetada do roteirista para que eles ressuscitem e retornem na continuação – que sabemos virá –, como, também, fiquei entusiasmado com aquele multiplicar dos cifrões.
Que fortuna, que filão! E que pé-de-meia!…
Pena que não sou cineasta, produtor, roteirista, diretor ou ator. Aliás, quanto à primeira profissão, afirmo que não levo o menor jeito para convencer quem quer que seja a produzir o que for; se pensar na segunda, quem sabe um dia terei o numerário necessário; pensando na terceira, confesso minha completa ignorância relativamente aos conhecimentos técnicos exigidos para esse tipo de enredo; quanto à direção, não me imagino competindo com os mestres da sétima arte; e por fim, se me sobrasse ser ator, posso afirmar que meu “corpo apolíneo” está a anos-luz da silhueta exigida para um galã de HQ.
No entanto, pensei com os meus botões: E se eu criasse um novo personagem? Um super-herói, ou super-heroína, que viralizasse, que se transformasse no próximo ídolo dos milhões de leitores e cinéfilos?
É claro que teria que tomar algumas precauções. Por exemplo, lembro-me de uma reportagem que li sobre os heróis de quadrinhos que, por uma ou outra razão, acabaram não agradando ao público e foram relegados ao limbo.
Um deles até me inspirou pena, pois a causa de ter sido posto de lado foi o uniforme que usava.
Não que as cores tivessem algo a ver com isso. Afinal, serem berrantes faz parte desse ofício.
Mas, convenhamos, ninguém que tivesse a pretensão de salvar o planeta Terra teria coragem de sair por aí voando de capa, vestido com uma roupa coladíssima ao corpo – como se fora de lycra – e cuja abertura frontal fosse tão ampla, que, iniciada nos ombros, deixasse desnudo todo o tórax, seguisse afunilando-se e em direção à barriga tanquinho, que também ficava à mostra, e só terminasse abaixo do umbigo!
O traje, além de ridículo, provavelmente seria desaconselhado pelo Conselho Federal de Medicina, pois se usado em grandes altitudes, em regiões insalubres ou no inverno, por certo não preveniria resfriados ou gripes.
Mas, então, qual seria o personagem cujos superpoderes estariam além da nossa compreensão, cuja invencibilidade seria a mais invencível de todas – não estando sujeita a nenhuma forma de kryptonita –, e que arrastaria às bancas de jornal e aos cinemas uma legião incontável de fãs, sedentos por intermináveis trilogias?
Será que poria asas?
Não. Sejam verdadeiras ou robóticas, já são lugares-comuns.
Invisibilidade, elasticidade, autocombustão, irradiação de raios gama, superforça?…
Caramba! Por mais que pense em tantos atributos, a mim me parece que o leque se esgotou, que o imaginário ficou saturado; tanto que eles são encontrados em mais de um super-herói.
Ó, inimitável Stan Lee, a tua criatividade, o teu carisma, o teu bom ânimo fazem muita falta…
No entanto, mesmo não me achando digno da tua maravilhosa inspiração, continuarei matutando, e rabiscando uma e outra ideias.
E quem sabe depois de algumas tentativas, um novo ícone surgirá; mesmo que não seja ser humano. Ora, se um guaxinim falante e briguento está conquistando multidões, nada impede que uma paca, uma capivara ou uma anta também mereçam o seu supersucesso!
Dias Campos
diascampos1@gmail.com

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